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A Consistência Possível


Todo dia 31/12 a gente faz planos, estabelece metas e diz que o ano que vem vai ser diferente. Querendo dizer com isso que as coisas vão melhorar e que nós vamos colocar em prática aquele plano guardado, aquela ideia brilhante, aquela dieta postergada. Fazemos uma lista de coisas e, normalmente, antes mesmo de terminar janeiro, já nos damos conta de que aquilo ali não vai sair da lista.

Não sei se você já passou por isso antes. Eu já e por isso falo em causa própria. Esse otimismo que nos bate quando uma ideia nos toca, essa expectativa de que o ano que vem seremos melhores e capazes do que não fomos este ano, é uma energia poderosa que nos impulsiona. Mas, depois do impulso inicial é preciso continuar. E é aí que entra a dura tarefa da consistência. De seguir com o plano e desapegar dos hábitos que a gente já tem.

Ano após ano eu fui apanhando da minha lista. E quando não fazia o que tinha prometido, ia ficando frustrado, menos confiante em mim e, com o tempo fui deixando a coisa de lado. Mas isso era ainda pior. Sem um plano, sem um objetivo, eu me sentia desmotivado, meio desnorteado. Eu sou dessas pessoas que precisam de uma conquista. Preciso me dedicar a alguma causa para me sentir bem.

Por isso, depois de testar as duas abordagens: uma lista de objetivos e nenhuma lista, este ano optei por determinar para mim mesmo um único objetivo. Quando há coisas demais a fazer, parece que a gente vai se embolando, se perdendo e esquecendo qual é o motivo daquilo. Fica cansativo e estressante demais e, pouco depois de começar, vamos deixando de lado e voltando para o lugar de onde viemos. Não melhoramos, nos mantemos na mesma e, às vezes, até pioramos um pouco.

Mas, até agora, a coisa do objetivo único tem sido bastante útil. Não importa o que aconteça. Sempre vem a pergunta: "isso me leva para mais perto do meu objetivo?" se sim, sigo. Se não, deixo de lado. E como é um objetivo só, por mais que seja bem exaustivo persegui-lo, não há outras tantas coisas intermediárias ou conflitantes. Não há dúvida sobre as prioridades e na hora de testar a própria consistência, sinto que tenho mais flexibilidade.

Se arvorar a muitos objetivos ao mesmo tempo, pelo que percebi, é uma certa pressa injustificada de colocar em prática as coisas de uma maneira artificial. Como uma máquina, como um robô super produtivo, mas sem curtir a construção daquilo, sem aproveitar o gosto de ir conquistando aos poucos, sem se prestar ao serviço da paciência, sem se lembrar humano e se render à consistência possível.

E não me entenda mal. Posso ser extremamente disciplinado, mas a verdade é que, ao longo da minha vida, muitas vezes, simplesmente não dei continuidade a algumas coisas. E me arrependo muito disso, porque poderia ter desfrutado muito mais, se pensasse menos no resultado do que estava fazendo e simplesmente aproveitasse. Poderia não ter me cobrando tanto, mas ao mesmo tempo me educado a ser mais concentrado, mais flexível comigo mesmo e mais inteligente com as expectativas que criava.

Ser consistente, acho, só é possível quando não se é rígido demais. Porque agora, olhando para o caminho que fiz, acho que ou eu estava no papel de um extremista da disciplina ou no de um fundamentalista do "foda-se", nenhum dos dois papéis vingou. Não comer um doce por causa da dieta, por exemplo, não pode ser sadio. E me refiro antes ao aspecto emocional e psicológico do que ao fisiológico. Além de ser um desaforo consigo mesmo.

Por isso, decidi compartilhar com você, meu querido leitor, a minha recém descoberta consistência possível. De nem me cobrar demais e nem deixar de me exigir um pouco mais. O que tirei da equação foi a pressa e a inflexibilidade. O que adicionei: aceitação e simplicidade. Umas vezes eu erro, outras vezes eu estou abaixo do que espero de mim mesmo, mas nunca estou me queixando, me julgando, ansiando pelo resultado. É bem melhor assim.

Não sei como estão os seus planos para 2022. Mas, se ainda não tiver nenhum ou estiver pensando em abandonar os que traçou, tente o seguinte: escolha a coisa mais importante dentre os objetivos que escolheu. Tente realizar apenas ele este ano. Mas, não jogue o resto da lista fora. Ainda teremos 2023, 2024, 2025, etc. Pense: E se você conseguir, a cada ano, colocar em prática um desses objetivos? Um por ano, assim, sem desespero, sem pressa. Valeria a pena?

Te proponho testar. Você vai ver que a lista de objetivos para de ser uma fantasia, uma daquelas bravatas que ninguém espera que seja realizada realmente. Vai ver que é muito gostoso ir concretizando as coisas aos poucos, vê-las nascendo por mérito seu e ainda por cima, vai realmente melhorar, gostar mais de si e confiar mais na própria vontade. Por que a pressa? Você está construindo uma catedral. Melhor, está construindo a si mesmo. Lembre-se, Roma não foi construída em um dia, nem em um ano. Aproveite o caminho. Boa segunda!

 
 
 

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Since 2021. por Rannison

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