Ansiedade
- rannison rodrigues
- 19 de set. de 2021
- 3 min de leitura

Já ouvi tanta coisa sobre ansiedade que, por via das dúvidas, recorri à autoridade máxima em assuntos diversos: o Google. E segundo o mestre de todos os sortilégios, pode-se definir ansiedade como: (i) grande mal-estar físico e psíquico; (ii) aflição, agonia; (iii) desejo veemente e impaciente; falta de tranquilidade; receio; ou (iv) estado afetivo penoso, caracterizado pela expectativa de algum perigo que se revela indeterminado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga indefeso.
Se partirmos dessas definições, fica muito difícil a tarefa da não-ansiedade, não acha? No mundo em que vivemos, é de se esperar que estejamos, "naturalmente", um tantinho ansiosos. Parei para pensar nisso porque, dia desses, me peguei conversando com a minha ansiedade. Olhei para ela com cara de poucos amigos, intranquilo e exigi respostas. Mas, não funcionou.
E não tive a intenção de ser rude. É que, depois de muito suportar, cedi à vontade irresistível de fazer a vida avançar no meu "pace". Sabe quando você só quer ir lá, fazer a coisa acontecer, e pronto? Pois é, era exatamente isso. Mas, quanta petulância a minha. É claro, depois de muito tentar, fui lembrado pela vida de que as coisas têm seu próprio ritmo, seu momento particular e perfeito para acontecer.
A despeito da minha deselegância, a ansiedade continua aqui comigo. Quando fecho os olhos, quando vou ao mercado ou quando estou escovando os dentes. Lá está a minha inconveniente amiga, rindo para mim. Mas, percebi, não é um riso de escárnio. Compreendi que ela está me tentando, me testando, descobrindo a medida da minha resistência. Quer me fazer merecer o que está por vir. Por que; agora entendi; é isso que ela está anunciando, mesmo sem dizer palavra alguma: "Algo importante vai acontecer."
Mas toda vez que eu pergunto: "O quê?", ela ri de mim. Quando indago "Quando?" ela finge que não ouviu e quando questiono "Como?" ela dá de ombros. Minha ansiedade não é minha inimiga, agora compreendo. Ela é uma mensageira apressada, como aquelas pessoas que chegam as 19:30 na festa que estava marcada para as 20:00. A minha ansiedade, essa que está aqui comigo agora, não é má. É uma profetiza de novos tempos. É a guardiã de um portal que liga o passado ao futuro. Mas, para atravessá-lo, é preciso passar no teste do presente.
E que inquietude a novidade nos traz. Quantas perguntas sem resposta, quantos enigmas. Tão excitante, tão misteriosa, tão imprevisível. E a minha ansiedade, essa que faz charme, que me olha de volta com "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", não me quer mal. Só quer me testar, quer ver até onde eu consigo lidar comigo mesmo sem ter certezas, sem saber o que vem a seguir. Ela está me desafiando a encontrar as respostas por mim mesmo ou ser consumido pelos meus medos.
Talvez a sua também. Faça o teste. Corteje a sua ansiedade, trate ela como quem trata a moça (ou o moço) por quem se apaixonou. Deixe fazer charme, preste atenção "Ela nunca vai deixar claro. Então, entenda sinais.", aceite o teste, decifre o enigma. Talvez um dia, você lembre de hoje com muita saudade. Aproveite a chance. Arrisque-se. Desvende a sua ansiedade.
E eu sei que na vida, às vezes, há tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo: mudança de emprego, de casa, de estado civil, de mentalidade, de cidade, de autopercepção, que ficar ansioso é quase uma dádiva. Porque te lembra que você está vivo e ainda há muito pela frente. Então, aproveite. Não fuja dela. Olhe-a de volta, bem dentro dos olhos. Tente entendê-la. Toda ansiedade quer nos testar. Agora mesmo, eu quase posso ouvir a minha dizendo: "Decifra-me ou te devoro." O que será que a sua tem a te dizer?
Boa segunda!
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