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Clichê?


"Aquele amor meio clichê, sabe?" ouvi essa frase há alguns dias e fiquei pensando: "Existe mesmo isso de amor clichê? Amor não é só amor, e pronto? Aliás, o que é um clichê mesmo?" Fui procurar e, segundo o dicionário, entre outras definições, clichê é: "Frase repetitiva e sem originalidade; chavão, lugar-comum; banalidade repetida com frequência."

E foi então que eu pensei em vários clichês: "nós vamos disruptar o mercado blá-blá-blá" é um deles. Outro clichê do mundo corporativo, por exemplo, é pegar o nome da empresa, colocar "er" no final e passar a chamar as pessoas disso. Nada de funcionário ou colaborador, de repente, se a pessoa trabalhar numa plantação de batatas, por exemplo, vira um "Batater", se for numa pastelaria, vira um "Pasteler". Isso sim, é clichê.

Outro exemplo: clipe de música com ostentação, um monte de mulheres semi-nuas e alguma letra falando de sexo, beber, trair ou ter sido traído por alguém. O negócio tá tão sério, que para se diferenciar teve até letra de música perdoando facada. E há vários outros exemplos, mas gostaria de dar especial ênfase àquele coletinho de pelúcia que, estranhamente, pelo menos em São Paulo, virou moda entre os endinheirados. Certos eventos parecem até desfile de coleção de mini-craques da Coca-Cola, todos igualzinhos. Ninguém sente frio nos braços?

E, pasme, não lembro de alguém ter me dito algum dia que achava essas coisas clichês. Pelo contrário, conheço bastante gente que as acha originais, inovadoras até. Para mim não são. São bem batidas e bem banais também. Mas, o amor. Ah, meu amigo, o amor não pode ser clichê. Porque se o nome da sua amada for Paula e você passar a se chamar de "Pauler" só vai ter um de você no mundo, porque igual à sua bela dama não há mais nenhuma. Isso sim é original.

E se, de repente, num mundo onde o talibã impõe o terror; tanques desfilam na esplanada dos ministérios a troco de nada; as pessoas continuam se agredindo por causa da cor da pele, da religião, da orientação sexual; alguém disser que o seu amor é clichê, discorde. Nenhum amor é clichê. É o contrário, meu querido leitor. Você é o revolucionário, o disruptivo, o subversivo. Você é o visionário.

Mas se a insistência for muita, me permita uma sugestão: Mande plantar batatas e deixar o seu amor em paz. E isso não é, nem de longe, uma indelicadeza, veja bem. Bataters tem como propósito de vida disruptar o mercado de produção deste distinto tubérculo. Então, vai ser mais proveitoso do que falar do seu amor. Se houver resistência, lembre-os de que, dentro de algum tempo, se trabalharem bastante, vão poder usar o coletinho de pelúcia e participar dos sofisticados desfiles de mini-craques. Isso deve funcionar. Boa quinta!

 
 
 

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