Da Má Vontade Ao Ironman
- rannison rodrigues
- 15 de nov. de 2022
- 4 min de leitura

Em 2011, arranjei um emprego em Macaé. O salário era ótimo e ficava perto de Cabo Frio, cidade onde morei por 10 anos e onde meus pais ainda moram até hoje. Naquela época, tinha um objetivo em mente: comprar uma casa para a minha mãe. Na empresa onde trabalhava, o salário não era dos melhores e recebi uma proposta para ganhar quase o triplo. Não hesitei, aceitei a proposta. Tinha 25 anos de idade.
Consegui comprar a casa da minha mãe, mas o custo pessoal foi alto. De 2008 a 2011, joguei Rugby. Completamente apaixonado, treinava 2 vezes por dia e estava sempre medindo minha evolução. Ir para Macaé implicava deixar o Rugby, um relacionamento e mudar drasticamente meus hábitos. Não seria fácil, mas não hesitei um segundo sequer.
Morando em Cabo Frio e indo, todos os dias, de ônibus para Macaé, eu fazia três horas de viagem na ida e outras três na volta. Quando conseguia me sentar, lia ou dormia. Quando não conseguia, lia em pé mesmo. Terminei os quatro primeiros livros de As Crônicas de Fogo e Gelo assim. Mas essa rotina, ao longo dos meses, cobrou muito da minha saúde.
Chegando tarde, comendo nos horários errados, indo dormir com o estômago cheio, sem treinar e praticamente sem espaço para descanso durante a semana, ganhei 6 quilos, perdi todo o condicionamento que tinha e, de quebra, ganhei um refluxo. Meu humor deteriorou, minha autoestima também e ver meus amigos do Rugby evoluindo enquanto eu ficava para trás foi realmente duro.
“Essa é a vida. Você escolheu, agora segue o baile.” Pensava comigo mesmo, mas, de repente, a vida perdeu o sabor. Comecei a me tornar mal-humorado. Por sorte, foi nessa época que amigos me indicaram para o meu primeiro emprego como headhunter. Voltei para o Rio de Janeiro com ânimo renovado, comecei um MBA e um namoro. Aí começava meu caminho para o Ironman.
Patrícia, minha namorada, corria bem. Treinava para meia maratona e levava a sério. Eu não via sentido naquilo. Achava correr coisa de gente doida. Sempre que ela me convidava, eu respondia: “E depois de correr, faz o que? Volta para casa? Não faz sentido nenhum isso. É que nem escalar uma montanha só para descer depois. Não vou, não.” Ela ria, mas não desistia. Sempre me chamava.
Quando voltei ao Rio, retomei os treinos de Rugby. Mas o tempo fora, tinha deixado marcas: estava bem distante do meu time e num dos treinos lesionei o meu tendão de Aquiles direito. Aquele seria um dos últimos treinos de Rugby da minha vida. Segui as orientações médicas do meu jeito e, claro, deu errado.
Não curei corretamente a lesão, me machuquei novamente e passei por quase 60 sessões de fisioterapia. O trabalho novo exigia cada vez mais. Os resultados começaram a aparecer e eu simplesmente não queria parar. Queria ser o melhor. Era quase uma obsessão. Eu dormia e acordava pensando em como eu poderia fazer mais.
Num dos últimos treinos ainda me recuperando, tomei uma pancada próximo ao olho esquerdo. Nada de novo. Mas, com o hematoma aparente, recebi a sentença do meu chefe. “Sei que você gosta de Rugby. Mas se quiser trabalhar aqui, não pode ir visitar clientes todo arrebentado. Escolhe: o esporte ou o trabalho.” Eu fiquei com o trabalho. Mas depois de um tempo, apesar dos resultados, do dinheiro, do reconhecimento, comecei a me sentir mal. Precisava de esporte.
“Vamo correr, Di. Só 5km. Vem comigo”. Ela era insistente e, veja, eu estava no limite. Então, dessa vez aceitei o convite de Patrícia. E quanto mais eu corria ao lado dela, mais sentia vontade de acelerar. Até que ela acelerou um pouco mais e eu fui acompanhando. Terminamos e eu só conseguia pensar “Até que não foi tão ruim.” Voltei para o Rio de Janeiro e comecei a correr por conta própria.
Primeiro foram 3 km. Eu acompanhava por um aplicativo de celular. Na época, usava um tênis inapropriado e corria de má vontade, para não ganhar peso. Então, a distância foi aumentando para 5km, depois 6km, depois 8 e então fiz a primeira prova de 10km. Alguns amigos viram e me incentivaram “Você corre bem. Foi um bom tempo”. Me inscrevi numa assessoria e, meses depois, fiz meus primeiros 21km. Eu gostava realmente daquilo e queria me testar mais.
Soube de uma prova de short triatlhon e me inscrevi. Deu certo. Então veio o triatlhon olímpico, o Ironman 70.3, o Ironman, as corridas de montanhas, as ultramaratonas. Comecei aos poucos, meio arrastado, continuei de má vontade e progredi porque me apaixonei. Aprendi muito com essa fase da minha vida. E talvez a lição mais valiosa desse amor improvável pelas corridas seja “O que fica no caminho torna-se o caminho”, como diria o imperador Marco Aurélio.
Encontrei na corrida um caminho para lidar comigo mesmo. Não gostava de correr, mas achava pior ser sedentário. Com o tempo, meus hábitos me mudaram completamente. Minha natureza era a mesma, mas aquilo que eu acreditava que poderia ser e fazer, mudou muito. Por isso, hoje, tenho certeza de que qualquer um pode se construir de acordo com sua própria vontade. Nossos hábitos são blocos de construção da nossa história. E se eu consegui, tenho certeza que você também consegue. Quer aprender como?
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