Entrando Na Arena
- rannison rodrigues
- 9 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Dizem que há duas coisas inevitáveis na vida: a morte e os impostos. Eu discordo. Há muitas formas de burlar os impostos e, muito em breve, talvez sejamos capazes de evitar a morte. Mas uma coisa na vida é realmente indefectível: a crítica. Não importa quem você seja, nem quantos anos vai viver. A única coisa certa é que será criticado, pelos outros e até por si mesmo.
Há algum tempo, escutei a seguinte frase "Podemos mais do que queremos". Se bem me lembro, foi Jorge Forbes quem a disse. E, logo de cara, ela fez todo sentido para mim. Concordo plenamente. Mas, me dediquei a pensar em porque isso acontece. E parece que a crítica, essa força inexorável, tem um papel fundamental nesse nosso querer acanhado.
Isso porque ela nos amedronta e, ao mesmo tempo, nos vicia. É uma estranha versão da síndrome de Estocolmo. Ficamos presos de tal forma à angustia de ser criticados, que passamos a nos criticar e fazemos disso um hábito. Com o tempo, nos tornamos nossos juízes mais implacáveis: "Sou péssimo nisso…", "Sou estranho mesmo…" ou "Tal coisa em mim é horrível…".
Se alguém diz: "Aquilo é feio", por exemplo, está apenas expressando uma informação sobre suas crenças. A coisa em si não é bonita nem feia, ela é o que é. Mas quando falam algo negativo sobre nós, pode ser bem difícil raciocinar dessa forma. A crítica nos alcança e nos machuca. Afinal, somos animas sociais, queremos fazer parte, queremos ser aceitos e apreciados. E para evitar a dor da rejeição, nos criticamos antes mesmo que alguém o faça.
Tempos atrás, a quantidade e qualidade de julgamento alheio que recebíamos eram limitadas, mas a internet pulverizou essas limitações. Afinal, uma opinião ofensiva expressa pessoalmente, pode gerar consequências mais graves do que se for expressa à distância. Quem já xingou o valentão da rua ao lado, de longe, aos gritos, e saiu correndo para não apanhar vai entender o que estou dizendo.
Só que hoje é bem fácil ser virulento e leviano. De longe, com um perfil fake, qualquer um é capaz de descarregar toneladas de frustração e maldade sem sofrer qualquer consequência. Assim, a nossa segurança emocional caminha num campo minado. Expor-se é arriscado demais, melhor nem tentar. A não ser, é claro, que tentar signifique fazer o que todos fazem, porque é seguro.
Só que esse "encaixe" nos tira a coragem, a originalidade, a vontade de ir lá e tentar. O medo da crítica nos torna falsos, mata nossa criatividade e enfraquece a vontade. Consequentemente, queremos menos do que podemos, e passamos a julgar negativamente os que ousam tentar. Porque dói ver a coragem deles jogada na nossa cara. Dói saber que nós também poderíamos, mas optamos pela segurança, pela trégua com os críticos de plantão.
Mas, essa segurança existe apenas na nossa imaginação, é uma ilusão. Só o que temos é a escolha: ser criticados ou criticar. Defender nosso querer apesar dos pesares ou alimentar debilidades com as frustrações que jogamos nos demais e em nós mesmos. Criticar é muito fácil, é confortável, é viciante. Porém, nos deforma e nos enfraquece.
Mas, qual é o real valor da crítica, afinal de contas? Segundo Theodore Roosevelt, nenhum. Para ele" Não é o crítico que conta; não aquele que aponta como o homem forte tropeça, ou onde o autor de atos poderia tê-los feito melhor. O crédito pertence ao homem que está realmente na arena, cujo rosto está manchado de pó, suor e sangue; que se esforça bravamente; que erra, que falha repetidamente, porque não há esforço sem erro e falha; mas que realmente se esforça para realizar as obras; que conhece grandes entusiasmos, as grandes devoções; que se empenha em uma causa digna; que na melhor das hipóteses conhece no final o triunfo das grandes conquistas, e na pior, se falha, pelo menos falha ousando grandemente, para que seu lugar nunca seja com aquelas almas frias e tímidas que não conhecem a vitória nem a derrota."
Se tiver de escolher hoje, escolha ser criticado. Deixe essa vergonha aos tolos. Decida-se a entrar na arena,lutar por uma causa digna, se expor, tentar, conhecer grandes devoções. Afaste-se das almas frias e tímidas. Talvez um dia consigamos superar a morte, mas esse dia não é hoje. Viva agora, ouse grandemente querer o que pode e nem um átomo a menos.
Boa Segunda!
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