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Espera


Por que é tão difícil esperar? Será que somos só ansiosos ou ficamos mimados querendo que tudo aconteça no nosso tempo? Às vezes, ouço alguém dizendo "Quem quer, faz acontecer" e penso comigo mesmo que essa é só uma parte da equação. Há mais elementos envolvidos e, em boa parte dos casos, a espera é um deles. Eu não sei você, mas para mim, esperar é excruciante.

Porque parece que a espera tira da gente aquela capacidade de realização. É como se, de repente, ficássemos diante da vida acompanhados apenas do nosso desejo. E não importa se é uma espera ativa ou passiva, porque mesmo que se faça algo enquanto estamos expectantes, aguardar é uma arte. E hoje, olhando para trás, percebo que já fui pior nisso. Consegui evoluir um pouco.

Lembro de uma vez em que minha mãe fez um bolo delicioso: cenoura com cobertura de brigadeiro. Meu Deus, aquele bolo era a definição de felicidade para mim. Talvez você me ache exagerado, mas é só porque não comeu o bolo da minha mãe ainda. Acho que tinha uns doze anos na época. Eu ia de dois em dois minutos ver se o bendito bolo "já" tinha esfriado.

Minha mãe ralhava comigo: "Deixa esse bolo esfriar, menino. Faz mal comer bolo quente", mas não adiantou. Eu tinha aguardado aquele bolo por muito tempo e não conseguia mais lidar com aquela delonga angustiante. Cortei dois pedaços vergonhosamente grandes, coloquei no prato e fui comer no meu quarto. Como aquele bolo estava delicioso e quentinho, só de lembrar dá saudade…do gosto, do efeito não.

Comi com voracidade impetuosa e gula indisfarçada, como se alguém fosse roubar o bolo de mim. Era um êxtase gastronômico. Eu sabia das coisas, pensei: "Que história é essa? Bolo quente é uma delícia, não faz mal nenhum. Comem pão quente, porque não poderia comer bolo. Isso é que nem aquela história de que leite com manga faz mal." Eu me sentia o senhor do tempo.

E algumas horas depois, me tornei um rei: ia da cama para o trono e do trono para a cama. Tive um "desarranjo" daqueles e nunca mais comi bolo quente. Mas a vida coloca muitos "bolos" diante de nós e, às vezes, eles parecem tão irresistíveis que não sabemos esperar o tempo certo. Pode ser um relacionamento, um emprego, uma viagem, uma promoção, um título.

Nem sempre o tempo certo é o tempo da nossa vontade. Certas coisas precisam amadurecer, florescer, frutificar. E a beleza da vida é ter a chance de ir aprendendo sobre o ritmo das coisas. A natureza nos ensina isso com as estações, com o dia e a noite, com o tempo da gestação dos bebês. Esses ritmos são perfeitos, inexoráveis e ignorantes da nossa ânsia.

Apesar disso, quem nunca olhou compulsivamente o relógio à espera de um abraço que vinha de longe? Quem nunca contou os dias para as férias ou para aquele evento especial? Quem nunca colocou os pés pelas mãos por não saber esperar? Então, vale notar uma coisa: não importa qual seja a sua espera, está mais perto do que a um instante atrás. Isso que você quer tanto, está chegando.

Não, não está demorando demais. Você é que precisa entender (e aceitar) o ritmo das coisas. O bolo já está pronto, espere ele esfriar. Se você plantou a semente, continue cuidando dela e deixe a natureza fazer o resto. O tempo não é seu inimigo se você souber trabalhar com ele. Liberte-se dessa "síndrome da ejaculação precoce" que domina a nossa época. Dê um passo de cada vez. Não precisa ser rápido, só precisa ser.

E tenho certeza de que, quando alcançar aquilo que tanto deseja, vai descobrir que o tempo, na verdade, foi um tempero imprescindível. Sem ele, talvez o negócio não ficasse tão gostoso, tão perfeitamente capacitado a ser uma definição de felicidade. Sem a espera, talvez não ficasse tão bem elaborado, tão cheio de amor e tão sobrenaturalmente gostoso, que nem um bolo da minha mãe.


Boa segunda!


 
 
 

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