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Eu Tive Um Sonho


Enquanto escrevo esse texto, Criolo canta "Não existe amor em SP…" a melodia da música faz pensar nos dias frios paulistanos, a letra lembra a paisagem dura, repleta de caixas até onde a vista alcança. Caixas de concreto, caixas de metal, caixas registradoras. São Paulo é o santuário de um mantra só: "Débito ou crédito?".

E quem olhar com olhos de ver, até encontra beleza na paisagem austera. Mas, meu querido Criolo insiste que "Não existe amor em SP…". Claro. Então, não é sobre a dureza e nem sobre a beleza, é sobre o amor. Por algum tempo, concordei com isso. Bastava caminhar um pouco pelas ruas, observar as filas e as relações entre as pessoas, para dar razão a ele.

Mas, foi em "SP" que entendi o amor de jeitos mais profundos. Porque foi aqui que vi pela primeira vez os olhinhos de David e foi também aqui que tive um sonho. Não um sonho qualquer, mas um daqueles que mudam a gente de dentro para fora. Depois dele, nada foi igual. Nunca mais o mundo foi o mesmo. E isso, aconteceu aqui. Ainda hoje, me pergunto porque.

No sonho, eu era um homem que, por algum motivo, chegava atrasado a uma estação. Lá, encontrava uma mulher que conhecia, embora não lembrasse de onde. Ao chegar, sabendo estar atrasado, era informado por ela: "Você demorou demais e estou indo embora". Mas, ele estava ali, então não era tarde demais. Tentou convencê-la a desistir da ideia e ficar, mas não adiantou.

Determinado, foi atrás dela. A tinha encontrado depois de muito procurar, depois de se esforçar tanto para conseguir chegar, não desistiria. Veja bem, aquele não era um homem ingênuo, mas carregava consigo um entendimento alheio às vicissitudes terrenas. Só de lembrar, eu consigo sentir aquela serenidade resoluta. Não havia medo nele, nem dúvida, só amor.

Ele sabia o que o esperava. E ao chegar no lugar para onde sua bela dama estava indo, foi testado, humilhado, caluniado, envergonhado. Por lá, era um Zé Ninguém aos olhos dos demais. Mas, dentro de si, sabia que tinha toda riqueza do mundo. E, mesmo quando passava por todas aquelas situações desagradáveis, não sentia ódio, não havia vingança dentro dele. Só amor.

Aquele homem só sentia amor. Se o humilhavam, ele sentia amor. Quando era rejeitado, sentia amor. E eu sentia o que ele sentia. Era como viver o que Paulo ensinou "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."

E eu tive esse sonho aqui. Na cidade cinza, do concreto frio e da garoa que corta. Nessa cidade onde "não existe amor", por que? Aquele homem via a maldade nos outros, mas não a condenava e nem se deixava condenar por ela. Ele sabia que eles não sabiam o que estavam fazendo. E o amor que sentia por aquela mulher, era uma força que eu desconhecida.

Ainda é difícil descrever com palavras. Mesmo depois de refletir muito, me falta habilidade. E a melhor definição que encontrei foi: Porque era ela. Não havia expectativa nele. Ele não esperava que ela fosse de um jeito específico, porque já a conhecia. Ele a amava porque era ela. E ela era ele. E ele era ela. Nada faltava nem sobrava. Simplesmente eram. E aquilo era a verdade.

Acordei desse sonho diferente. E essa diferença está, há mais de um ano, me "acordando" para a vida que importa. Por isso, não consigo mais concordar com Criolo. Enquanto aquele homem do sonho viver dentro de mim, o amor vai estar em todos os lugares que eu estiver. Inflexível, inabalável. Aquele homem me ensinou que existe amor em SP, porque existe amor em todos os lugares, desde que você o encontre dentro de si. E se você tentasse hoje? Boa segunda-feira!


 
 
 

1件のコメント


Tiago Silva
Tiago Silva
2021年10月04日

Caraca irmão... top demais...

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