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Fotos de Hambúrguer

Sou só eu, ou você também acha que as coisas hoje em dia estão cada vez mais parecidas com aquelas fotos de sanduíches de cadeias de fast food? Sabe aquelas imagens apetitosas de alfaces verdinhos, pães reluzentes e hambúrgueres suculentos? Você já deve ter visto várias pela vida afora. Tenho achado o cotidiano cada vez mais parecido com elas. A vida está virando um amontoado de fotos de hambúrguer.

E digo isso porque quando você acredita na imagem convidativa do sanduíche e compra um, o que espera e o que realmente recebe são coisas totalmente diferentes. Ao desembrulhar a comida, o alface está pálido e murcho; o pão não é brilhante, o hambúrguer é um marrom meio esbranquiçado e o sanduíche está longe de ser parecido com aquele da foto. É decepcionante. Só que agora estamos vivenciando isso em praticamente tudo.

Os influencers, a imprensa, os gurus, os livros, tudo enfim, muito cheio de maquiagem, muito bonito na foto, mas quando desembrulhamos o negócio, é só decepção. A coisa é quase ultrajante. Mas de tanto tolerar isso, vamos nos acostumando a aceitar essas anomalias, esses fast food do dia-a-dia. "5 coisas para ficar rico", "7 passos para ser bem sucedido" e todo esse blábláblá que não convence nem quem oferece. Somos como ilhas, cercados de embustes por todos os lados.

E é de se entender que alguém fique confuso, ansioso, depressivo, numa situação dessas. Afinal, o que é real? Dá pra confiar em que, se paramos de confiar até em nós mesmos? Isso porque fazemos vista grossa para os sanduíches falsificados que nos vendem, comemos aquelas porcarias venenosas e ainda dizemos que é uma delícia. Ora, como seria possível confiar em si mesmo quando você sabe que está se enganando, fingindo estar satisfeito, enquanto deixa alguém te fazer de bobo e se envenena com aquela comida tóxica?

Você confiaria em alguém assim? Eu, certamente, não. Mas, nós mesmos nos colocamos nessas situações o tempo todo. Ideias, pessoas, relacionamentos, empregos, objetivos. Deixamos fotos de hambúrguer entrarem em todas as áreas de nossas vidas, desembrulhamos, comemos, fingimos que estamos satisfeitos e depois não conseguimos entender o que está acontecendo de errado.

Todo fast food cobra um preço e, normalmente, afeta nossa saúde. Afinal, aquele troço não foi pensado para te alimentar, mas sim, e tão somente, para encher sua barriga. Pense bem, as coisas que você vivencia realmente nutrem você ou só ocupam espaço? Nunca se produziu tanto conteúdo sem conteúdo, nunca se falou tanto sem dizer nada, nunca se consumiu tanto e se teve tão pouco. Há muita informação, mas estamos desorientados, sem sentido de vida.

E a vida nos exige sentido, nos pede substância. Só quantidade não serve, só encher a barriga é muito pouco. Andamos por aí famintos de sentido, mas não conseguimos entender como encontra-lo. E se a gente tentasse parar de mentir para si mesmo? E se a gente parasse de consumir esse monte de porcaria que nos oferecem? O que será que aconteceria?


 
 
 

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