Genial é o simples

Confesso que demorei para escrever este texto. Afinal, falar de genialidade é, em si, uma empreitada desafiadora. “O que eu teria de genial a oferecer?” pensava comigo mesmo. Mas, decidi aceitar que mais importava dizer o que precisava ser dito do que ter algum tipo de brilhantismo associado ao gesto. Por isso, aqui vai o ensinamento 3 na lista dos 36 “Genialidade é revelar a magia do óbvio” Talvez você concorde comigo, mas o óbvio, às vezes, é simplesmente imperceptível. Assim como o essencial é invisível aos olhos, aquilo que é mais evidente, nos passa desapercebido mais frequentemente do que imaginamos. Estamos muito presos às nossas próprias mentes, nossos próprios pensamentos e aos anseios passageiros, e não vemos o que está logo ali, diante dos nossos olhos. Por isso, ao longo da minha vida, fui percebendo que as pessoas mais sábias explicavam as coisas de um jeito fácil de entender. As pessoas mais inteligentes por sua vez, tornavam as coisas mais fáceis para as outras e traduziam coisas muito difíceis em termos simples. A simplicidade era como o pico de uma montanha. Essas pessoas tinham vivido muito, pensado e trabalhado muito até alcançar aquele nível. Isso sempre me impressinonou. Era mais frequente que o presidente de uma empresa lidasse com as coisas de forma mais simples do que o estagiário, por exemplo. Como também era frequente que aqueles que tinham alcançado mais sucesso em suas vidas carregassem consigo sempre um sentimento de simplicidade. A arrogância, a dificuldade, a empáfia, eram apenas subertfúgios para esconder o óbvio. Na faculdade, lembro de ter escutado uma história que ilustra bem isso. Numa fábrica de creme dental, a máquina que colocava os tubos de pasta de dentes nas caixinhas começou a apresentar problemas. Algumas das caixas eram seladas vazias. Então contrataram uma consultoria e uma equipe de renomados engenheiros que fizeram diversos cálculos e estudos. Ao final, construíram uma balança de alta precisão e, dali em diante, se alguma das caixas não estivesse com o peso exato, a linha de produção era interrompida imediatamente, evitando a falha na embalagem. Todos ficaram felizes e orgulhosos do próprio engenho. Beberam e celebraram com o êxito do projeto milionário. Contudo, dias depois, o problema voltou e a produção tinha de ser suspensa o tempo todo. Incomodado com aquele imbróglio e querendo trabalhar, o pessoal da linha de produção decidiu colocar um ventilador apontado para a esteira onde as caixas de creme dental passavam antes de serem seladas. Qualquer caixa que estivesse vazia era, instantaneamente soprada para fora da linha de produção, o que evitava a parada das máquinas. Ao ir demonstrar a maravilhosa balança de precisão, descobriram que estava desativada. Os trabalhadores explicaram a situação e mostraram o ventilador. A linha de produção não parava mais, disseram. Deconcertados, os consultores questionaram como tinham conseguido aquele ganho de eficiência. Os trabalhadores disseram que o ventilador tinha custado R$ 49,90. Eles fizeram uma vaquinha e compraram, porque não aguentavam mais fazer hora extra por causa daquela maldita balança. Simples, genial. Na minha vida, diversas vezes eu fiz esforço demais por pessoas e situações que não mereciam e nem sequer precisavam de tudo aquilo. Fui tolo. Não porque deveria ter feito menos, afinal não consigo me envergonhar por ter dado o meu melhor. Mas o caso é que, às vezes, a genialidade está em fazer do jeito mais simples, mais fácil. Aliás, normalmente, o melhor jeito é o mais simples. E não precisa ir muito longe. Saia aqui em São Paulo e vá num restaurante qualquer desses gourmetizados. Você vai perceber que toda aquela bobagem de querer cobrar R$ 60,00 num prato de miojo com nome afrescalhado é quase um atentado à sua inteligência, como também o é ficar inventando coisa para se sentir mais importante, mais necessário e/ou mais bonzinho. Genial é fazer o simples, revelar o óbvio. Tão raro hoje em dia ver alguém sendo real, tão difícil ver por trás das lacradas e das mitadas. Todo esse arsenal de bobagem e de gente abestalhada copiando e colando frase, pode fazer você acreditar que simples é igual a supérfluo. Cuidado! O frívolo não lida bem com o simples. Um é filho da ignorância presunçosa, já o outro é rebento da experiência de vida. Fuja do primeiro e aprenda com o segundo. Toda vez que for aprender de alguém, prefira aprender com quem realmente fez. Se eduque com quem vive o que fala e você vai ver que, mesmo sendo admiráveis, essas pessoas raramente percebem ou falam de seu próprio mérito. De alguma forma, penso eu, são esses os gênios da humanidade que estão por todos os lugares, lidando de forma simples com a vida e nos dando a oportunidade de perceber o óbvio. Com frequência, estão mais perto de nós do que imaginamos. Por toda a minha vida, notei que as pessoas sempre estavam concentradas em saber o que as pessoas mais notórias pensavam. Mais do que isso, as pessoas as idolatravam como entidades superiores e, mesmo quando eram claramente tolas, para não dizer ostensivamente parvas, as pessoas queriam suas opiniões e repetiam o que aquelas pessoas diziam e faziam. Até hoje, sem dúvida, você terá muitos exemplos pelo mundo todo. Pode ser um músico, um político, um líder religioso, um empresário de sucesso. Essas pessoas não falam de simplicidade, não são gênios, pelo menos sob o ponto de vista que aponto aqui. Poderíamos discurtir se não há um certo grau de genialidade por envolver tanta gente, mas acho que não. Acredito que é a notoriedade dessas pessoas e não o mérito de suas ideias que arrebanha tantos seguidores. De toda forma, essas pessoas falam de frivolidades, especialmente daquelas que as beneficiam direta ou indiretamente. Não se perca. Por que quando falo que genialidade é revelar o óbvio, você não precisa de um guru. Precisa, isso sim, de atenção. Olhe com olhos de ver. Você vai encontrar genialidade nas perguntas de uma criança, num livro do Haruki Murakami, num conselho de um idoso com tom de piada, num amigo te dando bronca. Tão simples quanto a própria genialidade. O óbvio está nas pequenas coisas e os gênios estão em todos os lugares. Talvez você mesmo seja um deles. Boa segunda!