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Guerra, Fragilidade e Escolhas


Seria impossível escrever sobre outra coisa esta semana. O mundo prende a respiração: os russos invadiram a Ucrânia. Morte, medo, miséria. Não apenas miséria humana, mas miséria material. Pessoas procuram por comida, por fraldas, por algo com que alimentar os seus. De repente, tudo o que parecia tão certo, tão garantido, deixa de ser. Frágil vida. Frágil paz.

Há algum tempo venho falando no blog sobre lidar com o que a vida nos traz. Minha história me ensinou a sobreviver e seguir apesar de tudo. Consigo imaginar como é, para aquelas pessoas, não saber o que esperar do amanhã. Consigo imaginar o medo de ser morto no meio do fogo cruzado. Como, aliás, qualquer pessoa que tenha vivido em uma comunidade do Rio de Janeiro sabe. Afinal, em alguns lugares, a guerra é diária há muitos anos.

Mas, apesar de entender isso, não seria capaz de me colocar no lugar daquelas pessoas no meio do inverno europeu. Nunca tive tanques de guerra passando pelo meu quintal e nem mísseis destroçando o prédio vizinho. Mais do que isso, me pergunto se teria a mesma fibra, a mesma coragem que percebo naquelas pessoas. Um país tão pequeno quando comparado à Rússia, impondo uma resistência impressionante, quase sem receber apoio, apenas com as forças de que dispõe. E que não são muitas, diga-se de passagem.

Há algum tempo atrás, ouvi no jornal um relato dizendo que foi oferecido ao presidente ucraniano sua retirada da capital, Kiev. Sua resposta: "A luta está aqui. Preciso de munição, não de carona." E mesmo que você não tenha me perguntado, acho que um povo que escolheu um líder desses, apenas pela sua escolha, merecia uma chance de vitória. Esse presidente dos ucranianos é um homem mil vezes melhor do que o nosso, sem dúvida.

E isso me fez pensar sobre o valor das escolhas. Sobre o poder avassalador de fazer uma boa escolha. Anos atrás os russos escolheram Putin. Hoje, tanto faz o que querem, Putin faz as escolhas. Inclusive, sobre quem governa a Rússia e até quando. Não sei ao certo quantas pessoas já morreram no conflito na Ucrânia. Mas, por aqui, há não muito tempo, também tivemos uma guerra (e ainda temos) contra um invasor estrangeiro. Ele já nos levou mais de 600 mil vidas. E se esse é um número grande demais para conceber. Pense que é como lotar o estádio do Maracanã e matar todo mundo que está lá dentro, 8 vezes.

Quando isso aconteceu, nossos líderes receberam ofertas de "munição" de vários lugares do mundo. E, enquanto, éramos dizimados, nosso presidente pegava carona. Carona no caos, na desinformação, nos ódios nossos de cada dia. Fizemos uma escolha há quase quatro anos. E foi a escolha errada. Nosso líder foi indigno, fraco, irresponsável e negligente. Zelenski pede balas para lutar mais um dia, Bolsonaro perguntava: "Quer que eu faça o quê?"

Pois bem, 2022 chegou. É chegada a hora de satisfazer essa curiosidade mórbida. Eis aqui a resposta: "Vá embora, não volte e nunca mais mencione o nome desse país. Você o envergonhou e o abandonou. Você não é digno dele e nem do povo dele." E antes que você sequer imagine que esta é uma sugestão maniqueísta de "Votemos no Lula.", quero lhe dizer que esta seria uma decisão ainda pior.

Por mais incrível que te pareça, querido leitor, o Brasil dispõe de opções para além de Bolsonaro, o parvo e Lula, o caudilho. Sendo este último a pior opção disponível. Não apenas pelo aparelhamento do Estado que, tão habilmente, realizou por anos lidando com a nossa nação como se fosse propriedade dele. Mas para além disso, olhe em volta meu amigo. Veja as alianças que ele está fazendo. Note a arrogância no tom de fala. O homem acha que já ganhou.

Se Bolsonaro nos deu vergonha e morte, Lula e seu projeto de Brasil nos deu Bolsonaro. Não se engane. Não erre novamente. Não vote nesse homem. E por mais que eu relute na minha vida pessoal em expressar minha opinião política, ver o que está acontecendo na Ucrânia me obriga a quebrar o silêncio. Porque canalhas no poder podem destruir muitas histórias de vida, podem causar muito dano, dor, prejuízo e ódio. Nosso país está dividido entre as duas maiores chagas que já o acossaram. Meu povo briga e não se percebe refém de duas mentiras. Isso me dói e me dá medo.

Medo pelo futuro dos nossos filhos, pelo nosso próprio orgulho e identidade nacionais. Somos um povo numeroso, poderoso, diverso e fértil. Não podemos nos reduzir à lástima de ser liderados por quaisquer desses dois homens vergonhosos que se arvoram numa batalha de poder pelo poder, a qualquer custo e por qualquer meio. Eu sei que somos melhores do que isso. E sei também que crápulas não podem se eleger sozinhos. Eles dependem de nós. E é isso que me dá esperança.

Porque tudo o que importa é a nossa escolha. A escolha da nossa geração, que teve jogado na sua cara o resultado de colocar líderes ineptos no poder. É nossa, aqui e agora, a escolha de progredir ao invés de regredir. A escolha de tentar algo diferente ao invés de repetir os mesmos erros. A escolha de olhar para além da cortina de fumaça que nos sufoca e tenta nos cegar. A escolha de ser um povo "belo, forte e impávido" e mostrar que, realmente, "um filho teu não foge à luta."

E essa luta não é com o outro, mas com nós mesmos. Com o nosso desejo vazio de ter razão apenas por ter. Com a nossa mania de reagir e apenas falar das nossas opiniões, sem ouvir a do outro e sem encontrar a dor comum que nos tortura. Porque não importa qual número você digitou na última eleição, a gasolina tá cara para todo mundo. A comida tá cara para todo mundo. A COVID não escolheu entre 13s e 17s, meu amigo. Sabe por quê? Porque nós somos iguais. Mesmo querendo coisas diferentes, todos nós queremos paz, prosperidade, dignidade e um bom lugar para viver.

Separados somos fracos, como gravetos que se quebram ao mínimo toque. Mas juntos, mesmo gravetos podem opor resistência a uma força enorme. Se não entende ou não acredita, veja os ucranianos. Mas, só há uma coisa capaz de unir pessoas: um líder verdadeiro. Um líder que quer o bem do seu povo. Esse líder não chama ninguém de "gado", "facista", "comunista", "nazista". Ele não se esconde num cercadinho. Acorde, por favor. Te peço pelo meu filho e pelos outros filhos dessa nação que ainda vão nascer. Acorde, agora.

Seja qual for o resultado dessa guerra na Ucrânia, nós temos o nosso próprio combate aqui mesmo no Brasil. Contra as nossas vaidades, nosso egoísmo e a nossa miopia auto-imposta. E essa batalha só se ganha com união, com generosidade, com tolerância e gentileza. Primeiro, consigo mesmo para aceitar o erro cometido, sabendo que somos humanos. Nós erramos. E depois, também ver essa humanidade no outro que pensa diferente de nós. Ele também errou, mas juntos podemos tentar algo diferente.

E mesmo entendendo o quanto isso pode ser difícil, meu amigo. O que eu te peço é só o seu melhor. Tente. Eu sei que você consegue. Quebre a muralha das baionetas de argumentos vazios, rompa as fileiras de rifles de intolerância apontados para todos os lados. Mas não faça isso com bombas de raiva e nem com morteiros de acusações. Tente com humanidade, tente ver seu irmão sofrendo do outro lado. Tente com jeito, com uma flor de gentileza. Juntos nós podemos mudar o mundo e eu preciso de você. Você vem comigo? Boa segunda!

 
 
 

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