Hired - Capítulo 13: Comunicação (Conceitos Básicos)
- rannison rodrigues
- 4 de jul. de 2021
- 6 min de leitura

A anedota que contei acima se baseia numa outra que ouvi há bastante tempo. Na época passei dias pensando em como aquilo que falamos, realmente, faz toda a diferença. Mas ao pensar um pouco mais sobre a mesma história comecei a perceber que havia outras coisas ali. Afinal de contas, o que levaria alguém a se colocar em tal situação? Seria apenas a vontade de rir da cara do rei?
Se sim, o que mais aquela pessoa precisaria para fazer aquilo? Como alguém conceberia tal situação, mesmo sabendo que tinha boas chances de morrer e tendo poucas chances de fazer algo realmente prejudicial ao rei (se essa fosse sua intenção)? Bem, não parecia muito inteligente. Foi quando pensei, em Gandhi. Não é muito inteligente sair pela rua pregando paz enquanto se é espancado violentamente. Mas então, me perguntava, o que faz alguém tomar uma atitude assim?
Quando concebi a anedota que contei à você, percebi que a comunicação acontece durante todo o tempo. Somos como Wi-fis, só paramos de transmitir quando estamos desligados (mortos), e para algumas pessoas nem mesmo assim. O tempo inteiro estamos comunicando algo. Aquele rapaz, antes de pegar o balde de tinta e acordar cedo, precisou comunicar a si mesmo que aquele esforço valia a pena. Precisou pensar em formas de fazer o que pretendia e de arranjar coragem para se colocar diante daquela multidão tensa e levar seu ardil adiante.
Em algum momento, ele precisou dizer a si mesmo "Eu consigo." e mais do que isso, ele precisou acreditar em si mesmo. Então a comunicação talvez tenha começado por aí. E a minha opinião é que toda revolução, seja a do rapaz da anedota ou a de Gandhi, começa com poucas palavras que algumas pessoas dizem a si mesmo. Elas não estão nas redes sociais, não estão com os influenciadores digitais, não estão nos mais belos livros ou em discursos políticos.
As verdadeiras palavras revolucionárias são ditas no silêncio das nossas próprias consciências e não buscam convencer, impressionar ou conquistar. A única coisa que essas palavras realmente precisam é de terra fértil: da dúvida ou da nossa vontade de acreditar. Por isso, quero te pedir agora para ter isso em mente: Começa por você. Ainda que o mundo inteiro diga o contrário, ouça o que você tem a dizer a si mesmo.
Por isso, diga a isso mesmo agora que você pode. Que você tem o que é preciso e que você consegue. Acredite em si mesmo quando se disser isso. Todo o resto não vai funcionar se isso não acontecer. Acredite em si e na sua capacidade de fazer uma revolução na sua própria vida. Se achar, é claro, que ela precisa de uma revolução. Está tudo aí com você. Essa é a chave, todo o mais que você vai aprender por aqui, depende disso. Voltando à nossa anedota, vamos observar o que ela pode nos ensinar a respeito de comunicação.
Os detalhes importam
Essa é, sem dúvida, a parte mais óbvia da história. Uma vírgula pode significar a diferença entre a vida e a morte. Mas, há ainda o fato de que, se nos comunicamos negligentemente, podemos nos colocar em situações desastrosas, como fez o rei ao dizer que tudo que falasse seria lei a partir de então. O rei ignorou que, na verdade, sua palavra já era lei. O rapaz só queria que ele declarasse para que todas as pessoas ouvissem. Por isso, os detalhes importam não apenas para o que falamos, mas também no que ouvimos. Observe o que alguém está te falando e, caso algo fuja do habitual, tente entender as razões por trás daquilo antes de tomar uma decisão.
Ouvir é melhor do que esperar para falar
O rei não entendia isso. Autoritário e vaidoso, estava mais concentrado em ter o que queria, em falar ao invés de ouvir. Nosso mundo está repleto de pessoas assim. Alguma vez você conversou com alguém que, a todo tempo, estava falando de si? Mesmo que o assunto não tivesse nada a ver com aquela pessoa, ela trazia a conversa para si. Você já viu isso acontecer?
É muito comum lidarmos com pessoas assim. Não importa o que você diga, a conversa terá a ver com ela. Mesmo que você esteja falando de combustível de espaçonaves, aquela pessoa vai arranjar um jeito de falar sobre ela mesma. Por que? Somos cada vez mais bombardeados por informações e cada vez mais exigidos a nos colocar em situações que não são realmente agradáveis.
Trabalhamos mais do que gostaríamos e do que precisamos para manter um emprego do qual não gostamos e para ganhar dinheiro que gastamos com as coisas mais fúteis. É natural que, em algum momento, nos sintamos mal em relação à nossa própria vida. E essa extrema insatisfação, acredito eu, nos leva a compartilhar excessivamente a vida que conseguimos para ter alguns likes nas redes sociais ou a admiração alheia, assim conseguimos nos convencer de que, na verdade, não estamos tão infelizes. Nos tornamos verborrágicos nesse caminho e, mais do que isso, paramos de realmente ouvir os outros, porque precisamos constantemente ser validados e essa necessidade não deixa espaço para ouvir qualquer outra coisa além daquilo que queremos ouvir.
Pode parecer pessimista, eu sei, mas reflita um pouco e analise por si mesmo. Faz sentido? Um outro fator que nos atrapalha é a competição. Vivemos em um mundo onde a competição é a tônica da existência. Competimos em tudo. De videogames à futebol, conseguimos encontrar um jeito de criar competições musicais que premiam o "melhor cantor" ou a "melhor cantora". A arte não precisa de um campeão, nem nunca precisou, mas é assim que pensamos de maneira geral. Alguém tem que ser o "melhor".
O rei costumava ser considerado o melhor que o seu povo tinha conseguido produzir, contudo, o título e as honrarias permaneceram com o passar do tempo, mas talvez a essência tenha se perdido. É exatamente o que acontece com cada um de nós hoje. Temos que vencer, mas não sabemos exatamente quem e nem porque, precisamos nos destacar, mas também não temos clareza do que queremos alcançar com isso. No caminho, perdemos o sentido simples das coisas e a capacidade de compartilhar.
Sei que pode parecer filosófico, mas essa forma de pensar está subjacente à maioria das pessoas hoje. E se concordamos que a comunicação começa dentro de cada um de nós, observar isso é importante. Muito nos é dito e nós não ouvimos, porque não estávamos escutando. Estávamos apenas esperando a nossa vez de falar. Na anedota, o rei fez isso, e foi deposto.
Esse rei, dentro de nós, é o nosso ego. Quando ele se inflama e funciona como um tirano inconsequente, é como se fossemos reis aos nossos próprios olhos, vaidosos e prepotentes, desinteressados dos demais. Temos apenas o título e as honrarias, mas não somos mais o que de melhor se pode oferecer ao mundo. Ouça o que realmente está sendo dito, silencie o seu ego quando puder e tente lembrar de que você já sabe o que tem a dizer, mas não faz ideia do que será dito a você. Se você ouvir melhor, vai falar melhor também.
A forma importa
Você acha que, se o rapaz chegasse ao local com seu balde de tinta em mãos e tivesse uma atitude culpada, medrosa ou resignada, o desfecho teria sido o mesmo? Acha que se ele não tivesse massageado o ego do rei, teria conseguido a atenção do tirano? Acha que se ele não tivesse sido lisonjeiro com o monarca e ofensivo com o povo, teria conseguido o mesmo resultado?
A forma importa. O que você diz é importante, mas a forma como você diz pode determinar a diferença entre a sua vida e a sua morte. Em certas situações é preciso concórdia, em outras o desafio se faz necessário. Observe a maneira como você entrega o que quer comunicar aos demais. Um diamante é uma pedra preciosa, mas se você arremessá-lo no rosto de alguém, ele vai machucar da mesma forma.
Se, ao invés de dizer a alguém que aquela pessoa é "mais velha" do que você, disser que ela é "jovem há mais tempo", estará dizendo a mesma coisa. Não será eufemista e nem vai estar cedendo ao politicamente correto. A informação é a mesma, o ângulo é que muda. De um lado, você fala da velhice, de outro da juventude. Diferente é apenas a forma de olhar a mesma situação, por isso, a forma importa.
Palavras tem o poder de mudar tudo
"...cada palavra minha a partir de agora, será lei..." disse o rei pouco antes de perder o seu reino. Sua vida é exatamente igual. Cada palavra sua é lei. Cada pensamento seu, positivo ou negativo, torna-se lei. Acreditar que é possível ou não é uma lei que você decreta todos os dias para si mesmo. Mas, para além disso, as palavras podem mudar tudo porque, além de tocarem você, elas também têm o poder de alcançar outras pessoas.
Palavras são como senhas que utilizamos para acessar computadores, por exemplo. Não à toa, a senha do seu computador em inglês chama-se password ou palavra-passe (em tradução livre). Observe isso quando estiver conversando com alguém. Note o que acontece com seu corpo, por exemplo, quando ouve o que as pessoas estão falando. Talvez seu coração se alegre ou se entristeça. Uma notícia pode trazer esperança, alegria, tristeza, desespero, medo, paz. Levamos isso às outras pessoas através das palavras. Não subestime o poder das suas próprias palavras, utilize-as bem, elas têm o poder de mudar tudo, para melhor ou pior. (Continua amanhã)
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