Hired - Capítulo 13: Comunicação (Conceitos Básicos) #2
- rannison rodrigues
- 5 de jul. de 2021
- 10 min de leitura

Você lê o que você lê, e não necessariamente o que foi escrito
Quando ler o que foi escrito por alguém, lembre-se que você não teve a oportunidade de receber aquilo diretamente da pessoa. Você não teve a entonação e nem pôde acessar as intenções dela. É perfeitamente possível que alguém leia uma mensagem de texto, absorvendo-a de forma totalmente diferente da que a pessoa que escreveu esperava. Ou seja, é fácil entender "Ovo" quando o que estava sendo transmitido era "Voo".
Não ignore as suas emoções, preconceitos e estado psicológico no momento de escrever ou de interpretar uma mensagem de texto. Isso porque, em alguns casos você pode se colocar na mesma situação que o rei. Se precipitar, não entender o que está sendo realmente dito e responder de maneira pouco inteligente. Se algo parece muito errado e até mesmo absurdo, lembre-se, antes de reagir, que você lê o que você lê e não necessariamente o que está escrito e olhe a mensagem novamente interpretando-a, deliberadamente, no extremo oposto da sua interpretação inicial. Idealmente, tente, sempre, se colocar no lugar de quem escreveu aquilo. Normalmente, as pessoas estão fazendo o seu melhor.
Comunicação não tem a ver apenas com palavras
Suas expressões faciais, seus gestos, sua respiração, seu cabelo, sua roupa, sua maquiagem, enfim, tudo que uma pessoa pode ver, tocar, ouvir, cheirar, provar, sentir, tudo isso, comunica algo. Toda vez que pensar em comunicar-se com alguém dentro e fora de processos seletivos, lembra-se do que falamos há pouco. Os seres humanos não calam a "boca" nunca.
Precisamos de uns poucos instantes para formar uma opinião, chegar à uma conclusão, enfim, receber uma mensagem. Por isso, sua aparência, seu estado de espírito, sua atenção, sua postura e até mesmo seu cheiro podem interferir na forma como alguém percebe você. Numa entrevista de emprego e em qualquer outra situação da vida, sugiro que você se comunique de uma maneira que não agrida outras pessoas e, se possível, que ajude-as a compreender a sua forma de ver as coisas.
Você já deve ter conhecido alguém que mesmo quando era incisivo com outra pessoa parecia uma pessoa acolhedora. Talvez tenha conhecido também pessoas que, por mais gentis que tentassem parecer, não conseguiam convencer as outras pessoas de que, de fato, eram gentis. Seres humanos leem nas entrelinhas, falamos daquilo que comunica aos nossos 5 sentidos, mas nunca esqueça aquele nosso sentido que não tem nome e que percebe as coisas que não são ditas ou antes mesmo que elas sejam ditas.
Alguns chamam de intuição, outros de sexto sentido, escolha o nome que você prefere. Mas, leve em consideração, sempre, que comunicação não é apenas o que você fala, mas sim aquilo que você expressa. A aparência, as palavras, o ritmo, a forma de transmitir essa informação é um meio de ajudar as outras pessoas a nos entender de uma forma mais simples. Na anedota, o rapaz entendeu isso, o povo sentiu isso e o rei só percebeu tarde demais.
Seu interlocutor é mais importante do que o que você está dizendo
Se a forma é importante, o interlocutor é, via de regra, quem determina a melhor forma de nos comunicarmos. Você não explicaria uma situação da mesma maneira para uma criança de 5 anos e para um adulto de 45. O mesmo se aplica aqui. A forma é importante, mas é o interlocutor que determina a melhor forma. E não só a forma, mas também a oportunidade. Às vezes, o seu interlocutor, simplesmente não vai querer entender o que você está dizendo e, seja qual for o motivo, nessas situações, perceber isso é a diferença entre se frustrar e aprender.
Além disso, comunicar algo que ninguém entende é desperdício de tempo. Então, por mais importante e valioso que seja o que você tem a comunicar, mesmo que o faça da melhor forma e utilizando o melhor das suas habilidades para isso, se seu interlocutor não tem interesse ou não compreende o que você está dizendo, você fez um trabalho vão. O objetivo da comunicação é o entendimento, a conexão. Isso só pode acontecer quando seu interlocutor abre a porta para você e se você estiver usando a senha errada ou se não puder utilizar a senha, nada acontece.
Qualquer coisa na vida depende da comunicação
Já falamos disso há pouco. Mas vale a pena reforçar. Aquele rapaz não teria feito o que fez se não tivesse antes se convencido de que valia a pena e que ele era capaz. Mas, para além disso, há a realidade em que muitas pessoas vivem hoje. Com acesso a muitos recursos e muitas possibilidades, somos capazes de muito mais do que queremos.
É exatamente isso que você entendeu. Se querer é poder, podemos pouco quando queremos poucos. E hoje, de forma inédita, vivemos em um mundo onde as possibilidades humanas de contribuição, aprendizado, realização, felicidade, não tem precedentes na história humana. Contudo, queremos menos do que podemos. E esse subdesenvolvimento de potencial não é uma exclusividade da nossa geração, sem dúvida. Mas ele se baseia, com certeza, na nossa comunicação interna. Na forma como conversamos conosco.
As histórias que contamos a nós mesmos todos os dias têm enorme poder em relação àquilo que alcançaremos. Porque elas nos fazem acreditar que somos capazes ou que não somos. Como sei disso? Não, eu não li num livro e nem assisti em um filme. Me deixe compartilhar com você um pouco da minha história: Nasci, quase morto. Minha mãe teve complicações no parto e também quase morreu. O médico, ao falar com meu pai, lhe disse que tentaria salvar um dos dois e pediu para que ele escolhesse.
Meu pai, contudo, mandou ele entrar lá e sair com os dois vivos. É claro, disse isso com medo e com dor, mas o fato é que saímos os dois vivos de lá, felizmente. Tive uma doença na infância que quase me matou e passei boa parte da minha vida infantil e adolescente, sendo lembrado, por todos os lados, da minha insuficiência, do meu "não poder".
Fosse porque eu era pobre, fosse porque não passei no vestibular, fosse porque às vezes, as pessoas são cruéis simplesmente porque aquilo que você faz incomoda. Não porque elas não podem fazer, mas porque criticar e rebaixar uma conquista de outra pessoa é mais confortável do que lutar para ter as suas. Demorei muito tempo para entender isso. Acho que ao longo da minha vida, tinha a certeza de que eu precisava ser uma pessoa boa e tinha medo de não ser aceito. Certamente, muita gente, se não todos nós, têm esse medo. E eu aceitei me moldar àquilo que me era dito, eu só queria fazer parte de algo.
Isso acontecia porque eu sentia uma sensação de abandono enorme, desde quando era criança. A partir dos 5 anos de idade eu precisava me virar e ser um "bom menino", segurando as pontas até minha mãe chegar em casa, ou ficando com algum vizinho gente boa, sem dar trabalho, porque tive alguns problemas com uma tia que cuidava de mim. Apanhei demais quando fiquei com ela, e passei por algumas punições e humilhações que foram muito duras e me marcaram para sempre.
Toda vez que precisava ir para a casa da minha tia, chorava desesperadamente pedindo para minha mãe me deixar ficar em casa, mas nunca dizia porque. Entendi que se dissesse, minha mãe sofreria, mas não poderia fazer nada. Não queria que ela passasse por aquele sofrimento e nem por aquela humilhação, já tinha visto minha mãe chorar antes e não gostava nada daquilo. Então entendia que precisava convencê-la, sem mencionar o fato de que estava apanhando tanto. Mas como as surras foram escalando, um dia, ao chegar em casa, minha mãe me encontrou com o lábio superior inchado. Ele tinha sido rompido durante uma surra que tomei porque escrevi um "7" na toalha de mesa nova da minha tia. Acho que naquele dia a minha mãe decidiu me deixar ficar em casa. E, a verdade é que aprendi a ficar sozinho, o valor daquilo e fui lidando com os meus medos o melhor que podia.
No entanto, ao longo da vida, essas histórias de impotência, de medo, de abandono, vão pegando a gente de um jeito que a gente não percebe. Na adolescência e já na vida adulta é difícil lidar com essas coisas. É tão complicado que nós discutimos com quem quer que seja, alegando que a pessoa não sabe do que está falando. Afinal de contas, quem nos conhece melhor do que nós mesmos? Por isso, aqui no Hired nós vamos falar de autopercepção e não de autoconhecimento. Autoconhecimento leva tempo, é profundo e costuma durar uma vida inteira. Mas a autopercepção podemos alcançar de uma maneira mais rápida.
E uma coisa que percebi é que, ao longo da minha vida, me sabotei tanto quanto pude. Sentia que não era merecedor. Sentia que não importava o que eu fizesse, daria errado. Sentia que eu era digno de ser abandonado, etc. etc. Mas isso não é por culpa da minha tia. Não é por culpa do que passei ao longo da vida. A chave para a mudança desse cenário estava em mim, no meu diálogo interno. Na minha comunicação comigo mesmo.
Eu conseguia lembrar do menininho que apanhava, mas não me lembrava do mesmo garotinho que era forte, que era esperto, que aprendia rápido e se adaptava. Eu lembrava de me sentir só, mas esquecia da capacidade de autonomia, independência e inventividade que isso tinha me proporcionado. Eu lembrava, das partes ruins, sufocava as partes boas. A adversidade nos força à superação, afinal de contas.
Mas esse não é um discurso motivacional. É um chamado de um amigo que você ainda não conhece: Seja gentil com você. A vida pode ser muito dura às vezes. Quando estiver falando consigo mesmo, seja sincero, afinal não dá para mentir para você mesmo, mas observe aquilo que te faz poder mais, ao invés de observar aquilo que te faz sentir e poder menos.
Muitas dessas coisas estão tão registradas no seu inconsciente que vão levar anos para poder a força. Você vai sofrer um bocado e passar por momentos muito desconfortáveis. Mas, sua capacidade está atrás da porta que só as suas próprias palavras podem abrir. Porque são elas que formam as suas crenças. Todas as suas crenças são um amontoado de palavras, mude isso, e você mudará você.
Mude a sua forma de pensar sobre você mesmo. A chave para todo o resto está aí. Quando você começa a ver melhor as coisas é capaz de acreditar em algo diferente daquilo que sua mente te dizia. Suas limitações param de existir e novos horizontes aparecem. Esse esforço vale a sua vida. Se tiver que passar a vida inteira se dedicando a isso, minha sugestão é que você faça isso sem hesitar e sem se cobrar demais, curta o caminho.
O mundo é aquilo que você faz dele. Seu mundo pode ser um inferno, cheio de medo, dor, fracasso, insatisfação e tristeza. Ou pode ser o contrário disso, mas ele só muda quando você muda. Não apenas os seus hábitos, mas a sua própria visão sobre si. Se você precisa começar, comece pensando naquilo que é repetitivo, que todos te falam que você faz e que te impede de avançar na sua vida. Prepare-se para algum desconforto e, quando conseguir lidar com isso, garanto, você vai querer ter começado antes e não vai parar mais. Depois de entrar no modo "caçador de demônios" dificilmente alguém retrocede.
Falei tudo isso para dizer que você, querendo ou não, comunica ao mundo aquilo que é. Se for inseguro, carente, medroso ou se for seguro, tranquilo, confiável. Mesmo que diga milhares de palavras, seus atos vão te trair em algum momento e mesmo que não prejudiquem outras pessoas, prejudicarão você, sem dúvida. Você expressa mais do que apenas aquilo que fala.
Você já deve ter lido a frase de Paulo de Tarso que começa dizendo "Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria..." ou algo parecido com isso. Observe o que ele está dizendo. Mesmo que você possa falar às multidões, mesmo que possa comunicar céus e terra, sem o amor você não tem nada. E esse amor, você só pode descobrir gostando de si mesmo.
Seja gentil com você, não se diminua, não aceite seus pensamentos de derrota, não se violente para ser o que te pedem. Todo o mais virá naturalmente, goste de você. Às vezes é difícil porque aprendemos a gostar de formas onde querem que a gente se encaixe, mas aprecie suas habilidades, seus esforços, seus aprendizados, seus erros e seus "perrengues". Eles te trouxeram até aqui, eles podem te fazer ligar céus e terra. Você pode mais do que imagina, queira.
Somos como Wi-fis
O ser humano evoluiu tanto que alcançou um estado inédito de contradição. Acreditamos em microondas, acreditamos em wi-fi, mas achamos que é crendice quando alguém diz que "a energia" de outra pessoa não é boa. Seres humanos, como já está mais do que comprovado, emitem diversos impulsos elétricos, por isso, por exemplo, é possível fazermos um eletrocardiograma.
Eu, contudo, não acho crendice, e na verdade, acho é graça quando alguém vem com essas teorias materialistas que ignoram fatos práticos. Me divirto, ouço com atenção, mas entendi, já há algum tempo, que seres humanos são como wi-fis. Se você estiver na frequência, com a senha certa, pode se conectar a outra pessoa. Quando conversamos estamos fazendo upload e download continuamente. E adoramos fazer isso.
Yuval Noah Harari, no seu famoso livro Sapiens, Uma Breve História da Humanidade, nos conta que foi a conversa, a fofoca, as histórias que nos ajudaram a avançar, criar laços e sobreviver como espécie. Aproveito a ideia do Dr. Harari para complementar dizendo que a fofoca, a conversa, as histórias, são as nossas formas de pedir a senha do "wi-fi" das outras pessoas com quem lidamos. Assim que nos conectamos, podemos fazer download, upload e testar a segurança e qualidade da conexão.
Fazemos esse teste de conexão de maneira mais intuitiva do que de maneira racional. Há emoção envolvida, há uma percepção mais sutil. Se você mostrar uma foto a alguém e pedir para que te explique porque ela acha que a pessoa na foto está com raiva, não espere uma descrição técnica das contrações musculares no rosto que ela está vendo, nem espere que ela te replique falando sobre ictus facial ou coisas do tipo. A não ser que ela seja especialista no assunto, a resposta dela terá mais a ver com a sensação que a foto causa nela do que qualquer outra coisa.
Somos sutis, e por mais que queiram nos convencer, desesperadamente, que não. E nos levar a acreditar que o mundo racional e científico, isso é apenas uma falácia conveniente. Quanto mais negamos nossa intuição, nosso sentir, mas nos afastamos de nós mesmos e mais precisamos consumir coisas para nos sentir satisfeitos. Vivemos em um mundo de consumo, logo, essa desconexão ajuda bastante.
Então, partindo do princípio de que somos mais sutis do que supomos, ou nos permitimos aceitar, lembre-se de que somos "wi-fis" ambulantes. Você consegue sentir a gentileza quando ela se apresenta, desde que esteja disposto a "conectar", e assim por diante. Numa entrevista de emprego, sempre que estiver conversando com alguém, essa pessoa vai estar "captando" mais do que simplesmente ouvindo se, e apenas se, você se dispuser a conectar na rede dessa pessoa ou deixa-lá conectar na sua. Caso contrário, downloads serão impossíveis ou os arquivos chegarão corrompidos aos drives um do outro.
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