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Hired - Capítulo 14: Comunicação Efetiva


Você já ouviu a expressão "Falou e disse!"? Quando eu era criança, ouvi muita gente falar isso quando alguém dizia algo realmente relevante. Por exemplo, se uma pessoa falava sobre uma situação e dizia coisas coerentes e com as quais outra pessoa concordava, então quem concordava dizia, logo depois, algo como "É isso aí. Falou e disse!".

Durante muito tempo pensei que aquilo era engraçado, mas não consegui entender a profundidade da expressão. Com o passar dos anos, e quando decidi escrever esse livro, percebi que falar não é o mesmo que dizer. Um olhar diz muito, um gesto também, mesmo que nenhuma palavra tenha sido falada. Assim, quando dizemos que "uma imagem vale mais do que mil palavras", talvez estejamos tentando afirmar que ela diz mais do que mil palavras.

Então, a comunicação efetiva tem a ver com isso. Não são apenas as suas palavras faladas que dirão algo ao seu entrevistador. Você precisa falar e dizer. Enquanto nossa boca fala, nosso corpo diz algo, nossos sentimentos também dizem algo e, acredite se quiser, o que não falamos também diz algo a quem está interagindo conosco. Isso, sem dúvida, depende do ponto de vista do seu interlocutor. E como falamos há pouco, ele é mais importante do que a sua mensagem. Porém, já que não é possível controlar a percepção dele, podemos, pelo menos, conduzi-la na direção que mais conveniente e ajuda-lo a perceber o que nos interessa mais.

Uma entrevista é uma conversa que tem um objetivo e, via de regra, tempo para começar e terminar. Não importa quanto tempo seja. Aproveite-o bem. Você poderia falar de muitas coisas, mas porque fala de algumas e não de outras? Se ainda não parou para pensar nisso, talvez esteja perdendo tempo sem saber. Para falar e dizer, você precisa se ajudar. Utilizar dos mecanismos certos para alcançar o seu entrevistador. Então vamos aos tópicos que vão te ajudar nisso.


Escolha suas armas

Todos nós sabemos no que somos bons, mesmo quando não queremos admitir ou assumir nossos talentos, sabemos quais são. Por isso, podemos escolher nossas armas. Antes de toda entrevista, pense em que situação você se sente mais à vontade. Procure sempre se colocar nessa situação. Abordando aquilo que te coloca em uma posição mais favorável.

Se você é bom em dar exemplos e falar de situações com riqueza de detalhes e com boa argumentação, deixando claro cada coisa que aconteceu, faça isso, mas cuide do tempo para não exagerar. Se você for, por exemplo, melhor em respostas objetivas e curtas, se perdendo quando começa a dar uma resposta mais longa, use isso a seu favor, mas procure adicionar algumas informações relevantes ao longo das suas respostas, para não desperdiçar as oportunidades de demonstrar o próprio valor. Suas "armas" determinam a forma como vai lutar.


Pense na sua marca

Sempre que fizer uma entrevista, pense consigo mesmo o que a pessoa com quem você conversou recebeu de informação e o que gostaria que ela formasse de opinião a partir das informações que compartilhou com ela. Quando você fala de um carro, por exemplo, as características dele vão influenciar o interesse de quem procura por um automóvel. Apenas dizer que é "movido a combustível, tem quatro rodas e um motor" é cair na vala comum.

A maioria das pessoas comete esse equívoco, sem jamais tomar consciência disso. As pessoas tendem a dar as mesmas respostas quando questionada sobre tópicos similares, logo não estão preocupadas em passar uma imagem própria, ou seja, construir a própria marca. Isso é um desperdício. Selecionar com cuidados os fatos de nossas vidas profissionais e a forma de apresentá-los, é uma estratégia extremamente inteligente na formação de uma marca pessoal.

E uma marca pessoa é muito útil quando temos o objetivo de nos diferenciar em um mercado crescentemente tomado pelo exagero de obviedades. Vivemos em um mundo estranho onde somos induzidos o tempo todo a ser indivíduos, a ser diferentes, a "pensar fora da caixa", mas que nos influencia a seguir um determinado modo de agir e pensar.

Isso se reflete muito em entrevistas. Boa parte das pessoas pensa de maneira praticamente igual, tem respostas semi-prontas que podem ser utilizadas com baixo risco na maioria das situações e é por isso que muita gente acaba desperdiçando a oportunidade de realmente pensar a respeito da própria história e desenvolver sua marca pessoal. Faça diferente, escolha como quer ser visto e busque isso, construa sua marca.


Seja Você

Durante muito tempo realmente acreditei que induzir uma pessoa a se comportar de uma determinada maneira funcionaria. Eu estava errado. O que a pessoa é, mais cedo ou mais tarde, aparece. Já gastei muitas horas de trabalho dando uma verdadeira preleção a candidatos sobre como o entrevistador deles era, como deveriam se comportar para se conectar com ele de forma mais rápida e efetiva e, admito, hoje descobri que perdi esse tempo.

Não que o esforço fosse inútil, mas era mal aplicado. Eu queria que eles se comportassem de uma forma que não era natural a eles, por isso, depois de alguns minutos de entrevista, aquilo que eles realmente eram assumia o volante e, assim, de uma hora para outra, eles passavam a ser quem eram, causando enorme confusão no entrevistador. Afinal, quem seria aquela pessoa? Será que ele deveria acreditar na primeira versão ou na que depois assumiu a entrevista?

Achei que estava ajudando, mas, na verdade, não estava. Estava apenas cuidando da minha necessidade de controle. Então, não importa qual seja a entrevista que for fazer na sua vida. Seja ela com o papa ou com o seu filho enquanto ele finge ser um repórter, seja você mesmo. Essa é a melhor versão que você pode apresentar a quem quer que seja.

Não faria sentido nenhum pedir que você escolha as suas armas, defina a sua marca e, de repente, pedir que você coloque um personagem para colocar isso em prática. Como diria Pitty "mesmo que seja estranho, seja você", totalmente você. Não tente fingir ou dissimular e não confie em quem te diz que apenas um jeito funciona. Não é verdade e, mesmo que fosse, se não for você é "de mentira". Confie, assuma-se, seja você.


Reforce suas fortalezas

Reforçar as fortalezas, pode parecer estranho. Normalmente, falamos de fortalecer nossos pontos fracos. Mas você acha que ao colocar tração 4x4 em um carro esportivo estaríamos tornando ele melhor? Claro que não. Todo ele foi projetado para um outro propósito. Então faria muito mais sentido olharmos para outras características que poderiam, ao ser melhoradas, realmente torná-lo ainda melhor.

É o mesmo com relação às pessoas. Normalmente, estamos muito concentrados em diminuir nossas debilidades, ou seja, concentramo-nos mais em parecer menos fracos do que em parecer mais fortes. Minha sugestão para você é que você tem um "posicionamento de mercado". Com isso quero dizer que você deveria assumir seus pontos fracos, mas não deveria se deter neles.

Imagine comigo, quando você está buscando um determinado produto, decide comprá-lo ou não com base em algumas características, certo? Mas, imagine se todo produto a venda tentasse atender a todos os públicos ao mesmo tempo. Isso seria possível? Então, reforce aquilo que, de fato, são suas fortalezas e siga adiante sem se concentrar naquilo que são suas "debilidades".

Ou seja, não dá para ter tudo. Eu sei que você pode ter sido persuadido a acreditar que sim, mas não dá. Não é possível ser atleta, pai, empresário, marido, conselheiro, amigo, tudo ao mesmo tempo em altíssimo nível. Alguma dessas coisas vai precisar dar espaço à outra, porque você tem uma quantidade de tempo e energia que te permite se dedicar apenas a parte delas de forma efetiva.

Se você entender isso, sofrerá menos e passará a se concentrar naquilo que realmente move o ponteiro. Pare de se concentrar em ser menos fraco e se concentre em parecer mais forte. Posicione-se, fortaleça suas fortalezas, melhor o que precisar e for possível, mas não tenha, nenhum por um segundo, o objetivo de ser perfeito ou de atender às expectativas de todos.


Saiba o que você quer

Muita gente sabe como fazer coisas, mas pouca gente sabe realmente porque faz o que faz. Procure estar nesse grupo seleto dos que sabem porque fazem o que fazem, porque eles realmente sabem o que querem. Se não ficou claro para você e ainda está muito abstrato, vá até o supermercado sem nenhuma lista, sem nenhum objetivo em particular e você vai entender.

Há muitas coisas no supermercado que são úteis. Todas elas tem seu próprio valor e contribuem de alguma forma para objetivos diferentes. Mas, mesmo que você esteja cercado de recursos valiosos, se não souber o que quer, não vai saber o que precisa levar. Se não souber quanto pode gastar, não vai saber o que levar. Mas, sabendo o que você quer, mesmo que não esteja naquele supermercado em particular, você vai procurar em outro, e outro, e outro, até encontrar.

Então, saiba o que você quer. O problema não está no supermercado, normalmente, o problema está na lista de compras. Ou ela é pouco clara, ou ela é apenas uma cópia da do vizinho ou de um blog que você viu na internet. Faça sua própria lista. Não espere que todo mercado seja igual e não se dê por vencido se não encontrar o que procura no primeiro ou mesmo no centésimo estabelecimento, porque você sabe o que quer e, mais cedo ou mais tarde vai conseguir. E mesmo que não encontre em nenhum lugar aquilo que procura, ainda assim, você vai poder construir por si só.


Narrativa Positiva

Seja simples, seja claro e seja positivo. Muita gente se concentra naquilo que não quer, naquilo que teme, ao invés de se concentrar naquilo que quer, naquilo que ama. Seja diferente, concentre-se na parte positiva. Fale sobre o que você quer, sobre o que te faz bem, sobre o que você faz bem, sobre o que te deixa forte e sobre o que te motiva a ser melhor.

Dê menos espaço à negatividade e a conversa limitadora que nossas próprias mentes, por vezes, nos apresenta. Não estou sugerindo que você fique sorrindo e postando mensagens de autoajuda quando, na verdade, está triste ou se sentindo mal. Viva o que você sente de verdade. Mas concentre-se naquilo que te movimenta ao invés de pensar naquilo que te trava e que não te permite avançar.

Como falamos há pouco, concentrar-se em ser menos fraco ou invés dedicar-se a ser mais forte é um erro comum, como também o é pensar em termos negativos ou limitadores. Isso atrapalha sua criatividade e sua autoconfiança. Quando for falar de você mesmo, coloque positividade e alegria no que tem a dizer. Quando for falar das outras pessoas, tente ver o que há de bom e positivo nelas, mesmo que a experiência não tenha sido das mais positivas.

Evite falar mal de quem quer que seja. Mesmo que seja para falar mal de si mesmo, resista a tentação. Isso é apenas o seu ego te seduzindo a se colocar numa situação mais confortável. Sim, mais confortável, porque, tendemos a nos esconder atrás de uma máscara de mediocridade para sermos melhor aceitos em sociedade.

Pode parecer ridículo o que eu estou dizendo. Mas quando, entre todos os seus amiguinhos da escola, você era o único a tirar notas altas quando todo o resto da sala tirava nota baixa, provavelmente, seus colegas se sentiam mal. Isso porque, ao fazer o que eles não conseguiram, você o expunha de uma maneira que eles não podiam aceitar. Vocês eram "iguais" de acordo com os ritos sociais, então porque só você tinha tirado aquela nota?

"Todos amam um campeão" Você já deve ter ouvido essa frase. Mas, a vida nos mostra que ela está incompleta. Às vezes, conviver com alguém realmente extraordinário pode ser muito incômodo e fazer as pessoas se sentirem mal. Temos um pacto inconsciente para sermos animais gregários. Como diria um amigo, "prego que se destaca, leva martelada", e porque acredito que isso é verdade, sugiro que, você não se deixe levar pelo risco de parecer bom, capaz, extraordinário.

Seja positivo em relação a você mesmo. Reconhecer isso não faz de você melhor do que outras pessoas, mas te torna melhor em ser quem você realmente é. Todas as pessoas têm uma capacidade enorme e lidar com essas potencialidades de forma positiva é o que as torna ainda maiores e mais úteis aos demais. Tudo aquilo que você pode tem uma função clara: ajudar outras pessoas. Por isso, ser positivo em relação a si mesmo é apenas não negar o fato de que você é capaz de ajudar outras pessoas de formas boas e úteis.

Ser negativo em relação a isso é diminuir o próprio valor e negar as próprias potencialidades. Isso te limitará, te tornará menos confiante e satisfeito, e te deixará à mercê dos interesses e opiniões alheias para o resto da sua vida. E isso é tempo de mais e de menos. Aproveite seu tempo e seja positivo em relação a si mesmo. Foque no que quer, deixe aquilo que você não quer de lado. BAsta tomar a decisão e seguir em frente.


Storytelling

Há uma boa razão para que você gaste horas batendo papo, assistindo Netflix ou lendo livros: histórias são muito, muito interessantes para seres humanos. Não importa a idade ou origem, histórias tendem a nos interessar. elas nos intrigam e despertam nossa imaginação. De repente, estamos em outro plano e paramos de pensar os personagens como eles realmente são, nos colocamos no lugar deles. E é esse o poder das histórias, colocar o ouvinte, dentro delas. Ele não está realmente ouvindo a sua história, e sim criando a sua própria versão, a partir do que você está contando.

Por isso, por milênios culturas inteiras passaram a maior parte de sua sabedoria mais profunda por meio de histórias. Além de ser muito interessantes, histórias são facilmente assimiladas. Afinal, desde criança, contamos e ouvimos histórias, elas nos acompanham a vida inteira e quanto mais vivemos, mais temos para contar. Conte a sua. Deixe que outras pessoas participem da sua jornada.

Storytelling é uma técnica que procura apresentar a alguém uma ideia, um conceito, um produto, uma pessoa, a partir de uma história. Quando estiver em uma entrevista e for confrontado com uma pergunta como "me fale sobre você" ou "me conte sobre uma situação em que...", você está sendo convidado a contar uma história.

Mas toda entrevista é um convite a contar uma história. Seu currículo é, em última instância, um histórico da sua vida profissional. Que tal contá-la de uma maneira que as pessoas gostem e queiram ouvir? Colocando situações engraçadas, emocionantes, tristes, épicas. Dê cor ao que vai dizer, dê vida. Mas não esqueça de dar informações relevantes, que sejam ao mesmo tempo interessantes, verdadeiras e alinhadas à narrativa que você quer estabelecer. Amanhã vamos falar sobre a Jornada do Herói e como ela pode ajudar você a contar sua história.


 
 
 

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Since 2021. por Rannison

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