Hired - Capítulo 31: Além do Método - Autenticidade
- rannison rodrigues
- 25 de jul. de 2021
- 3 min de leitura

Nos meus primeiros meses como recrutador, percebi que quando os candidatos chegavam à entrevista mais preparados e munidos de informação, sua performance tendia a ser melhor. Nem sempre isso acontecia, mas era mais frequente ajudar do que atrapalhar. A partir daí comecei a me dedicar a dar, tanto quanto possível, todas as informações necessárias para que o candidato tivesse bom aproveitamento na entrevista.
Em algum momento, comecei a ter um efeito inesperado: embora os candidatos estivessem bem preparados e munidos de informação relevante, estavam sendo reprovados um após o outro. O que estava acontecendo? Fiquei irritado, frustrado e, ao mesmo tempo, curioso. Veja, um processo seletivo, quando bem feito, dá trabalho, exige energia e dedicação. Logo, você quer que a coisa funcione.
Mas, ainda muito inexperiente e com uma mente extremamente objetiva, fazer bem o meu trabalho e não ter o resultado esperado, me parecia uma injustiça. Me vitimizei algum tempo e coloquei a culpa nos outros, mas depois de deixar meu orgulho de lado, comecei a prestar atenção ao que realmente estava acontecendo. Não demorou muito para entender a raiz do problema: excesso de preparação.
Tanto candidatos quanto clientes me fizeram entender que a preparação excessiva anulava um fator importante da equação: a autenticidade. Ouvi de um candidato uma vez: "sei que é diferente do que você tinha me direcionado, mas falei e acho que deu certo." e de um cliente: "senti ela muito 'preparadinha', com as respostas muito 'certinhas'. Achei muito mecânica".
Touché! Lá estava a minha arrogância me esbofeteando. Quem era eu afinal que acreditava ter o poder de saber o que fazer, como fazer e qual a resposta certa? Quem era eu, com meus meses de recrutamento, para querer controlar esses fatores que eram imprevisíveis. Mark Twain tem uma frase famosa em que dizia levar mais de três semanas para escrever um discurso de improviso e isso faz todo sentido.
O que eu fazia ao preparar demais o candidato? Induzia-o a subvalorizar sua capacidade de ser espontâneo e ainda assim se sair bem. Note que, como um "discurso de improviso"de Twain, aquele profissional construiu sua história por bastante tempo. Ele pode se sair bem sem ter um roteiro pré-estabelecido. Ele não precisa dar respostas prontas e não precisa ser "perfeitinho" demais.
Nós, seres humanos, sentimos aquilo que é autêntico e aquilo que não é. Não me pergunte como e nem com que intensidade, eu não saberia responder. Mas sei que percebemos e, consciente ou inconscientemente, isso influencia nossa percepção em relação às outras pessoas. Qualquer coisa que tire a sua autenticidade, tende a te atrapalhar.
Seja uma mentira, um exagero, uma resposta ensaiada, se tira a sua autenticidade, se soa "fake", joga contra você. Por isso, tanto quanto possível, seja autêntico. Mesmo que receba informações prontas, transforme-as em coisas que têm alguma relação com você, torne-as mais "de verdade". E uma outra coisa que tenho a dizer é que, ao longo da minha carreira, quanto menos autêntico eu fui, menos consegui o que realmente buscava.
A autenticidade parece ser um "indicador sentido" de quem é realmente capaz de ser bem sucedido. Porque quando alguém sente que pode ser de verdade com a gente, acredito que nos sentimos mais à vontade e que encaramos aquela pessoa de uma forma mais tranquila, acho que consideramos aquela pessoa mais satisfeita. E talvez seja essa satisfação pessoal que nos faz reagir melhor a elas.
Afinal, pense consigo mesmo: porque alguém bem sucedido estaria tentando não ser autêntico? Não faz sentido nenhum. E se essa pessoa estiver sendo "fake", será que ela está tentando te esconder algo? Simplificando, é difícil acreditar em quem não é autêntico. Além disso, não valorizamos o que é falso. O que vale mais: um quadro legítimo de Leonardo da Vinci ou uma cópia? É o mesmo desenho, afinal de contas, porque têm valores diferentes?
Por causa da alma, por causa da intenção contida na obra. Minha opinião é que, de alguma maneira, podemos perceber essa "força estranha" nas coisas e nas pessoas. Chamo essa força de humanidade e acredito que, qualquer coisa que a viole, diminui nossa capacidade, nos diminui. Talvez, uma das coisas que mais viole, agrida essa força é a falta de autenticidade. Ela nos mina, nos deforma e nos enfraquece. Acredito sinceramente que as outras pessoas conseguem perceber, captar, sentir isso e que você não deveria jamais se permitir ferir sua autenticidade. Nunca viole quem você é, seja lá pelo que for. Não vale a pena, ninguém ganha com isso.
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