Hired - Capítulo 32: Além do Método - Empatia
- rannison rodrigues
- 26 de jul. de 2021
- 3 min de leitura

Tenho ouvido muito essa palavra com a ideia de nos colocarmos no lugar do outro. Mas percebo sempre um certo esforço interesseiro no que chamamos de empatia. Somos empáticos esperando receber algo em troca. Reconhecimento, agradecimento, admiração, etc. Isso é bastante complicado, porque, ao final das contas, a empatia, como a vejo, deveria ser uma via de mão única, sem esperar retribuição.
Para ser legítima, acho que a empatia precisa ser um exercício de olhar o ser humano diante de você sem uma opinião e sem um interesse específico. É muito difícil fazer isso. Mas quando conseguimos, ganhamos maturidade, porque ganhamos entendimento. Se sou mal recebido por um entrevistador antes de uma entrevista, posso apenas ficar chateado e tentar justificar aquela atitude como falta de educação.
Mas há outras coisas que eu posso fazer se optar por não reagir instintivamente ao que está acontecendo. Se eu me dispuser a perceber o quadro amplo posso entender, por exemplo, que já é o final do expediente, que aquela pessoa pode estar cansada, frustrada, que o dia pode ter sido difícil e que a cabeça dela está em outro lugar. Ela não tem o objetivo de ser mal educada, pelo menos não deliberadamente. A cabeça dela não está ali, não está em mim, está em outro lugar.
Minhas chances naquele momento já são muito reduzidas. Provavelmente eu não conseguirei a vaga, já que meu entrevistador me demonstra que as chances de ele formar uma opinião desapaixonada são baixas. Mas, afinal de contas, eu já estou ali. Tem uma pessoa na minha frente que provavelmente não está tão interessada em me ouvir. O que eu posso fazer?
Claro, eu posso simplesmente seguir em frente com a minha frustração e a minha contrariedade, reagir àquela pessoa e tornar a situação ainda pior. Ou posso ter empatia com ela. "Obrigado por me receber esse horário. O dia deve ter sido corrido para você, precisa de muita energia para fazer uma entrevista uma hora dessas." Mesmo que ela não reaja positivamente a isso, eu me ouvi dizendo: tem alguém diante de mim tentando se superar, posso fazer o mesmo.
Quando for a uma entrevista, não esqueça de que tem mesmo uma pessoa do outro lado. Ela sente dor, fome, medo, raiva, igualzinho a você. Não espere que essa pessoa seja perfeita e seja você a pessoa que tenta deixar as coisas mais harmoniosas. Não espere isso da outra pessoa, faça você mesmo. Não julgue e nem sinta que seus interesses são maiores ou menores do que os da outra pessoa.
Simplesmente lide com o que receber e faça o seu melhor para ajudar a pessoa do outro lado a conhecer você. Isso, para mim, é empatia. E nesse cenário, ninguém é mais beneficiado do que quem a oferece. Se consigo ver com outros olhos as atitudes das pessoas com quem interajo, sinto menos ansiedade, raiva e tristeza. Empatia, portanto, é melhor do que anti ansiolíticos, antidepressivos e calmantes. Ela cuida da nossa saúde mental e emocional melhor do que qualquer droga inventada pelo ser humano, então, te convido a vê-la assim.
Assuma o compromisso de exercitar a empatia sem considerá-la um rito social. Eu sei que por toda parte tem gente falando de termos mais empatia de uma forma politicamente correta, como se ao fazer isso fossemos pessoas melhores porque ajudamos outras pessoas. Isso é falta de coragem de assumir que não somos tão altruístas assim. E também é falta de perspectiva. Porque empatia não é algo que oferecemos ao outro porque somos bonzinhos. Ninguém precisa da nossa pena, e é muito arrogante imaginar que só porque entendemos a outra pessoa ela se sentirá melhor por isso.
Por acaso o fato de eu entender que você está irritado te acalma? Acho que não. Mas pode me ajudar a agir de forma mais inteligente em relação a você. Então, perceba bem, você não deveria exercitar a empatia porque é bonzinho e quer ser certinho, ajudando os outros, coitadinhos deles. Deveria utilizá-la porque ela fortalece a sua capacidade de agir dignamente e não se colocar em situações prejudiciais a você. A empatia nos prova a todos, que não somos coitados e nem vítimas das circunstâncias. Experimente.
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