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Hired - Capítulo 33: Além do Método - Humanidade


Você já conheceu alguém perfeito? Alguma pessoa sem nenhum defeito? Acredito que não. Isso porque ser humano é ser perfectível, mas imperfeito. Apesar disso, o ano de 2012 foi bem marcante na minha vida. Foi o ano em que eu comecei a conhecer pessoas perfeitas. Meus primeiros dias como headhunter foram muito impactantes para mim, porque comecei a perceber as demais pessoas me colocando no lugar delas.

Dentro do roteiro de entrevista que utilizávamos, havia um item que tratava sobre defeitos ou pontos fracos. Logo ao lado, tínhamos as perguntas sobre os pontos fortes. Não era o entrevistador quem apontava aqueles pontos, mas sim o candidato. E, logo nas primeiras vezes que passei a perguntar aquilo aos entrevistados, percebi que eles tinham enorme dificuldade de falar sobre seus defeitos.

Eu me sentiria da mesma forma, é claro. Não conseguia recriminá-los por não se expor àquele tipo de pergunta. Porém, com o passar do tempo, fui conhecendo gente que podia falar dos seus defeitos com tanta facilidade, com tanta tranquilidade, que chegava a dar inveja. Pasme, essas pessoas tendiam a ser muito melhor avaliadas em entrevistas de emprego.

Não, eu não tenho um estudo científico sobre a relação entre uma coisa e outra. Como falei lá no início, compartilho isso a partir da minha experiência pessoal. Mas perceber isso, me provocou a perceber como eu mesmo avaliava aqueles candidatos. Eu também os avaliava de forma mais positiva. Fossem as pessoas certas para determinada vaga ou não, a experiência de entrevista com aquelas pessoas era mais fluida do que as com pessoas que relutavam em falar de si tão abertamente. Mas por quê?

Após refletir sobre o assunto, cheguei à opinião de que essas pessoas conseguem nos tocar por meio de sua humanidade. Mais do que serem autênticas, sendo exatamente como são, elas nos alcançam porque são simplesmente humanas. Não tentam ser sobreumanas. Não tentam ser perfeitas e lidam com isso de uma forma que nos deixa confortáveis.

Quanto mais alguém te esconde coisas, mais você tende a desconfiar daquela pessoa. Somos muito mais sensíveis do que imaginamos. Mas quando alguém te diz que não consegue lembrar de nenhum defeito em si, o primeiro impulso é o de dar uma chance para a pessoa pensar e lembrar-se de algo. Se, mesmo assim, ela não continua afirmando que não tem nada que possa apontar, você passa a desconfiar dela. Será que ela não se conhece ou será que está me escondendo algo?

Acho que isso acontece inconscientemente. A gente não faz esse raciocínio propositalmente. Ele simplesmente nos ocorre. Chamo isso de feeling aquela coisa que a gente não entende ao certo, nem consegue definir claramente, mas que, internamente, faz sentido. Por isso, seja como for sua entrevista, invista em humanidade.

Esse componente aliado aos demais, trespassa o entendimento racional e imediato e acessa uma outra camada de percepção que todo mundo possui. Essa camada é a que gera os feelings, como eu os chamo e ajuda muito a deixar uma impressão realmente poderosa em quem quer que seja. Mas, humanidade não se reduz a falar sobre temas espinhosos assumindo o próprio papel de ser humano. Passa também por entender o outro como ser humano.

Se você for fazer uma entrevista às 20:00 com um recrutador, não espere que ele esteja descansado. Provavelmente o dia dele foi intenso e o seu também. Talvez ele te pergunte algo que você já respondeu porque está cansado e como você reage a isso também é humanidade. Olhar o seu interlocutor pensando em como servi-lo é humanidade. E pessoas que têm esse tipo de atitude, normalmente, são melhor avaliadas.

Falamos em termos de utilidade sobre todas as coisas, não é mesmo? Falo de humanidade aqui aplicada ao contexto de processos seletivos, tentando demonstrar como essa característica pode ser efetiva. Porém, a humanidade pode ser exercitada todos os dias das nossas vidas, não importando o contexto ou situação. Não serve apenas para passar em processos seletivos. Serve para viver melhor.

Se tiver a oportunidade hoje de ser humano, imperfeito, interessado em servir, seja. Exercite isso. Vai te ajudar muito em processos seletivos, sem dúvida nenhuma e na vida também. Todos somos imperfeitos, todos somos naturalmente permeáveis à verdade. Todos nós somos tocados por essa centelha de humanidade nos gestos das outras pessoas. Aproveite!


 
 
 

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