Hired - Capítulo 5: Seu Produto
- rannison rodrigues
- 25 de jun. de 2021
- 4 min de leitura

Existe uma infinidade de modelos de carro à venda no mundo, não é mesmo? Por gentileza, me diga qual é o melhor e qual você compraria. Escolhidos? Ótimo. Agora, note uma coisa: as escolhas que você fez estão baseadas nos seus interesses e nas suas capacidades. Algumas pessoas terão escolhido pick-ups 4x4, outras escolheram carros esportivos e outras ainda podem ter optado por não ter carro nenhum. E, para algumas, o melhor não é o mesmo que comprariam. Empresas são como você, elas fazem escolhas baseadas nos seus interesses e nas suas capacidades.
Porque entender isso é importante? Para que você tenha claro que, nem sempre, em um processo seletivo, o desfecho tem a ver com você. Não é tudo sobre você, não leve as coisas para o lado pessoal. Mas, o que isso significa? Simplificando muito, às vezes, em um processo de seleção, a empresa pode estar procurando um 4x4. E o fato é que, ainda assim, por motivos diversos, um carro esportivo pode acabar participando do processo. Ao longo do tempo, claro, os 4x4 continuarão e os esportivos não. Algo de errado com eles? Claro que não, mas se a pista é de barro, com pedras, desníveis e é preciso força bruta, os esportivos não fazem nenhum sentido. O mesmo não aconteceria se o objetivo fosse vencer uma corrida. Nesse caso, os 4x4 não teriam chance.
Se pensarmos em termos similares com relação a nós mesmos, perceberemos que, quando algo em um processo seletivo sai diferente do que gostaríamos, talvez a decisão tivesse mais a ver com os interesses e capacidades da empresa do que com o nosso desempenho ou nossas características. E para olhar isso de forma "desemocionada", sugiro pensar em você mesmo como um negócio. Funde a Você S/A.
O objetivo da Você S/A é simples: vender o seu trabalho da melhor forma possível. Para isso estou te provocando a se tornar um profissional. Exatamente isso. Torne-se um vendedor profissional do seu trabalho e lide com os desdobramentos disso. Essa ideia não é minha, mas ela faz todo o sentido e quando passei a aplicá-la na minha própria vida, as coisas melhoraram muito.
Dando a César o que é de César, a ideia que estou compartilhando com você é de um escritor norte-americano chamado Steven Pressfield. Além de escrever romances históricos e de ser ex-fuzileiro naval, Pressfield trabalhou de diversas outras coisas ao longo de sua vida. Seu sonho, no entanto, era ser escritor. Segundo ele, o início foi difícil e ele passou por situações realmente desanimadoras. Em uma delas, conta, foi deixado na sala de espera por horas e, quando chegou sua vez de falar com o potencial contratante, a reunião foi cancelada.
Depois de passar por episódios ultrajantes e que o incomodaram muito enquanto realizava o seu sonho de escrever, Pressfield passou a adotar uma postura diferente em relação ao que acontecia com o seu trabalho. Segundo conta, passou a pensar em si mesmo como um profissional. Parou de se incomodar com a crítica e com os elogios e passou a ver as coisas em termos práticos. Precisava vender o seu trabalho e fazê-lo da melhor forma que pudesse, o que acontecesse a partir dali, não iria deprimi-lo ou deixá-lo nas nuvens. Ele faria o trabalho que tinha de fazer e não se incomodaria mais com os resultados.
A primeira vez que li A Guerra da Arte, livro em que Pressfield relata suas experiências, entendi do que ele estava falando: é sobre entender o seu produto, fazê-lo e oferecê-lo da melhor forma possível, porque você não pode controlar se vão querê-lo ou não. Mas quando fizer isso, faça de uma forma profissional, não se apegue ao resultado.
"Não me apegar ao resultado? Mas eu quero a vaga, o resultado é tudo que importa". Não, é exatamente o contrário. Você deve se concentrar em fazer o melhor que puder, quando puder e demonstrar o que tem a oferecer sabendo dos seus pontos fortes e fracos. Não deve se concentrar no resultado, porque não pode controlá-lo e, como já falamos, gastar energia com aquilo que não se pode controlar é uma tolice.
Então, quando estiver participando de um processo seletivo, pense em você mesmo como uma empresa que oferece um determinado tipo de serviço, que tem um determinado valor e que opera dentro de uma certa filosofia. Ofereça seus serviços da melhor forma possível e tente demonstrar o que eles realmente são e como podem gerar valor para seu contratante. Não tente ser um 4x4 se for um esportivo, apenas para obter a aprovação em um processo seletivo e não se incomode com a opinião que formarão de você. Isso tudo é relativo e passageiro.
Mas, como uma boa empresa, a Você S/A precisa entender exatamente qual é o seu produto, em que mercado ele se encaixa, qual é o cenário em que está inserido e, especialmente, seus pontos fortes e fracos. Sabendo disso, você entenderá seus diferenciais, suas vantagens e desvantagens em relação ao cenário amplo, e seus principais fatores de atratividade.
Se não estiver claro para você, sugiro que trabalhe em um plano de negócios dos seus serviços. Ao longo dos posts falaremos do Seu Canvas e aproveitaremos a técnica para preparar você e identificar aquilo que ainda não está claro na sua estruturação de produto e proposta de valor. Você é o dono da sua carreira e deveria encarar o processo seletivo como uma oportunidade de vender os serviços que vêm desenvolvendo ao longo dos anos.
Pense na sua própria carreira em termos corporativos, com plano de negócios, metas, compromissos e investidores. Rapidamente, você perceberá que fica mais claro onde você está desperdiçando tempo e energia e onde gostaria de chegar. Feito isso, coloque mãos à obra e siga, sem pressa e sem pausa. A partir daí, nada poderá te interromper. Nem os feedbacks, nem os dissabores, nada. Tudo será apenas mais uma etapa na execução da Você S/A.
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