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Nos Ombros de Gigantes



Já faz algum tempo que não posto textos aqui. Algumas pessoas chegaram a me perguntar se eu tinha parado de escrever, se eu tinha desistido do blog. Isso seria impossível, porque eu não escrevo com um resultado em mente. Só deixo o que preciso dizer num momento se traduzir em texto. Nunca foi pelos likes e nem para virar blogueiro. Eu quero, simplesmente, compartilhar.

Mas desde que comecei a escrever sobre as 36 de 36, passei a me questionar. O objetivo era compartilhar 36 lições que tive ao longo dos meus 36 anos de vida. Mas, alguma coisa ficava me incomodando: “você pode mesmo se propor a isso?” Veja só, eu não suporto gente que não faz o que diz, como aqueles livros que ficam inventando nome diferente pra um negócio que já tem nome.

Toda vez que abro um livro sobre negócios e administração, por exemplo, tenho essa impressão. Requentam uma ideia, dão outro nome (em inglês de preferência para parecer mais sofisticado) e todo mundo bate palma, faz palestra, abre até consultoria. Mas quem escreveu o livro nunca viveu aquilo. Nunca aplicou, errou, “sentiu na pele” o que está oferencendo aos outros. É só um poser. E ser poser já virou estilo de vida e até modelo de negócio. Nada contra, só não funciona para mim.

Foi aí que comecei a me perguntar se eu realmente tinha aprendido bem aquilo de que estava falando nas 36 de 36. Me tomou algumas semanas, até que eu conseguisse calar o carrasco dentro de mim. “Ok, vamos nessa. Mas faz direito, hein!” disse de mim para mim mesmo. Mas só fiquei em paz depois de, casualmente, encontrar o meu mestre de jiu-jitsu no restaurante.

Depois que me separei, quando precisei encontrar outro lugar para morar, um critério facilitou a busca: precisava ser perto da academia onde treino jiu-jitsu. Faz pouco mais de um ano que comecei a treinar com o André e aos poucos fui percebendo que, de fato, trata-se não apenas de um professor, mas de um mestre. Pra além da sua habilidade como lutador, já que é um multicampeão, ele tem uma impressionante capacidade de melhorar pessoas.

Dentre as coisas que aprendi sobre o meu mestre, algumas me chamaram a atenção: (i) André é um pai carinhoso e dedicado; (ii) o cuidado dele com as moças que treinam na academia é máximo; (iii) ele era chefe da segurança da Ana Hickmann (mas fala dela como se fosse sua irmã, tamanho o carinho); (iv) é extremamente generoso; (v) André morreu duas vezes. Exatamente o que você leu. Ele morreu duas vezes, mas continua vivo e passa bem.

Num mundo repleto de posers, encontrar um mestre de verdade, é como a força da gravidade. É inescapável. Você ouve cada palavra com silêncio na alma. Pesa os significados, observa as intenções, imita os movimentos, questiona o que você pode aprender com aquilo. E o mais curioso é que ao contrário dos posers, mestres verdadeiros, ensinam sem saber que estão ensinando, sem pretensão, de um jeito simples, sem neologismos em inglês.

Nos encontramos no restaurante na hora do almoço e, depois que pagamos a conta, conversamos alguns minutos na frente do estabelecimento. Quando estávamos saindo, perguntei: “Mestre, depois que você teve as paradas cardíacas, você lembra de alguma coisa?”. Contexto rápido: André teve duas paradas cardíacas após um campeonato de jiu-jitsu e foi ressucitado pela equipe médica que o atendeu.

Ele me respondeu como quem responde a um "bom dia". Não tinha nenhuma solenidade, mas era profundo e verdadeiro. “Cobra*, eu lembro de falar com a médica. Depois apaguei e me vi deitado num gramado, assim, tudo verde, e via umas sombras passando. Eu tava indo mesmo. Depois disso, lembro de acordar no quarto do hospital e ver uns quatorze ‘nego’ me olhando. Os enfermeiros, né?! Aí eu perguntei para a médica ‘Vocês me trouxeram de volta né, doutora?’ Não era minha hora mesmo.”. Você, meu querido leitor, consegue se imaginar passando por isso?

Fiquei absorto naquele pensamento: como seria passar por aquilo. Por uns instantes, não consegui fazer as muitas perguntas que vieram à minha mente. Por sorte, ele continuou. “Desde que eu morri, Cobra*, eu só me concentro em ficar bem. Porque a vida passa muito rápido, essas desavenças, briguinhas, tudo isso não adianta de nada. A gente vai embora e não aproveita as coisas, as pessoas, por causa de bobagem. Não tem porque, irmão. Eu falo para minha namorada, seja com você ou com outra pessoa, o importante é a gente estar bem, porque a vida passa muito rápido.”

Eu não sei se você já teve a oportunidade de conversar com alguém que fala de um jeito que vem de dentro da alma. Não é só palavra, não é som apenas, é outra coisa. Eu ouvi aquilo e, ali mesmo, no meio da rua, meus olhos encheram d’água. Mesmo segurando, chorei. Acho que a verdadeira sabedoria causa isso na gente. Me despedi do André e voltei para casa reflexivo.

Tenho trabalhado umas 18 horas por dia, sonhando com algo que só eu vejo e construindo-o com muito amor, com minhas melhores ações e pensamentos. Mas estava ignorando a mim mesmo, minha saúde, meu bem-estar. Acho que ao deixar isso passar, desconfiei de mim dando conselhos aos outros. Mas, minha auto-confiança está reestabelecida.

Porque só se pode estar realmente bem, estando inteiro. Foi isso que eu entendi do que o meu mestre me falou. “Esteja neste momento, a vida acaba logo ali”. E construir a Summit, para mim, não é um futuro,mas um presente imediato dentro de mim que as outras pessoas ainda não conseguem ver. Eu consigo e acredito que posso mostrar a elas. Mas, isso não vai acontecer de uma hora para outra e preciso cuidar melhor de mim mesmo. Do corpo, da mente e do espírito. E nada alegra mais meu espírito do que escrever isso para você, que eu nem conheço, mas que chegou até essa parte do post.

Por isso, esse é um texto de revisão dos cálculos, porque agora são 37 de 36. E a lição 37 é: Estar Nos Ombros de Gigantes. A vida me deu a sorte de ter gigantes à minha volta. André é um deles. E os seus gigantes podem estar logo aí do seu lado, desavidados, sem saber que são mestres magníficos. Cabe a você perceber. Eles têm vários papéis: mães, vizinhos, mestres de jiu-jitsu, etc. E sua grandeza está em quebrar os véus que te separam da verdade.

Acho que foi Robert Browning quem disse que “O alcance de um homem deve ir além de onde seu braço alcança, ou para o que servirá ao céu?”. Eu conheço um homem que foi ao céu e voltou. E suspeito que fez isso para aumentar o alcance dos outros, com conselhos, com seu exemplo, com seus ombros. E, graças a isso, hoje eu consigo ver as coisas de forma diferente, afinal ter mais alcance é ver mais longe. E como disse Newton “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” Esteja você também. Bom fim de semana!


*Cobra: Meu apelido no jiu-jitsu é Cobrinha. O recebi por ser considerado fisicamente parecido com a grande lenda do esporte Rubens “Cobrinha” Charles Maciel.

 
 
 

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