O Distraído
- rannison rodrigues
- 15 de jun. de 2021
- 3 min de leitura

Alguma vez você olhou o relógio e se assustou com o horário? "Já?". Hoje foi um dia assim para mim. Cheio de distrativos, entre as várias coisas para fazer. Ineficiência máxima. Refém das notificações, das propagandas, dos assuntos aleatórios que parecem interessantes demais para deixar passar. Além disso, é claro, cuidei de outras coisas da vida, mas, o fato é que desperdicei muito tempo levianamente.
Veja bem, eu não sou nenhum fanático da produtividade. Ser improdutivo, às vezes, é a coisa mais produtiva que podemos fazer. Mas, não estar todo o tempo fazendo coisas é bem diferente de dedicar-se às coisas que não vão fazer nenhuma diferença na sua vida. Por exemplo, aquela propaganda no Instagram ou aquele meme do cachorrinho. Isso é caloria vazia pro cérebro, mas, pior que isso, consome muito do nosso precioso tempo de vida. Hoje eu enfiei o pé na jaca nesses fast-foods. Tanto que só fui parar para escrever bem tarde.
A caminho do Jiu Jitsu, fui pensando em porquê cargas d'água eu tinha sido tão displicente. Gastei tanto tempo com bobagem que, de repente, ao olhar o relógio, me assustei: "Já?" E não tinha comido direito ainda, não tinha organizado as coisas que queria e o tempo estava contra mim. Eu estava "atrasado". Aí passei a fazer as coisas com pressa, com menos paciência e menos atenção. Isso já aconteceu com você?
De repente, comecei a pensar que esse modo de vida pode ser interessante para muita gente, principalmente para quem quer nos vender coisas. Mas, para nós, o habito da distração é tão ou mais intoxicante do que uma droga. E quando falo "muita gente", quero dizer toda essa máquina de views, likes, seguidores, etc. Essa indústria de distração. Claro que nem tudo é bobagem, mas ainda assim, é distração.
Veja seu celular, por exemplo, quantas vezes ao dia você olha para ele? Quanto tempo ele passa na sua mão? Imagino que mais tempo do que você gasta cuidando, por exemplo, da sua própria evolução como ser humano. Se não for o caso, você é uma exceção. Porque hoje, nós somos bombardeados por um monte de informações que não nos interessam, usamos um monte de coisas das quais não precisamos e passamos o tempo nos distraindo, nos afastando ainda mais de nós mesmos.
Por causa disso, perdemos tempo, vivemos apressados, estressados, ansiosos, distraídos. Logo nos tornamos descontentes, afinal, deixamos de estar presentes nas nossas próprias vidas, e daí passamos a recorrer a mais distrativos para preencher essa carência. Comidas, filmes, memes, compras inúteis. Gastamos ainda mais tempo e dinheiro alimentando um ciclo vicioso que só nos aprisiona e perdemos a capacidade de entender de onde vem esse gosto amargo que a gente sente na alma. Nos perdemos de nós mesmos no meio do paraíso de "anestésicos", nos desconectamos de nós para nos conectar ao banal, ao inútil, ao passageiro, ao vazio.
Com o tempo nos acostumamos, a vida passa a ser pouco mais do que só isso. Criamos nossos próprios motivos para viver daquele jeito e não vemos a vida passar. Estamos de olho nas telas quando caminhamos, quando esperamos o elevador, quando dirigimos, quando encontramos quem amamos. Logo, a vida passa, como um filme que nós aceleramos para ficar apenas com a parte que nos interessava, estávamos de corpo presente, mas nossa intenção, nossa alma, não estava lá. Amamos distraídos, sentimos distraídos, vivemos distraídos e nos despedimos assustados: "Já?"
Tem dias que são exatamente assim...