O Peso da Experiência
- rannison rodrigues
- 15 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Dia desses, voltando de Salvador para São Paulo, tive uma epifania. Estava no aeroporto, em pé, esperando a chamada para o embarque e tinha nas costas uma mochila bastante pesada. Com o tempo, aquele peso foi me cansando, mas eu a mantive onde estava. Depois de quase 20 minutos em pé, o aviso: o grupo 6 seria chamado por último. Era o meu grupo, então me preparei para esperar um pouco mais. Fiquei lá, de pé, com a bendita mochila nas costas. Depois de um tempo, decidi me sentar. Mas, acredite se quiser, não tirei a mochila. Tinha espaço disponível para isso perto de mim, mas a ideia simplesmente não me ocorreu.
Mais alguns minutos e comecei a achar que estava demorando demais. E foi aí que comecei a conversar comigo mesmo:
— Qual a pressa, Rannison? Você está de férias. — Indaguei a mim mesmo.
— OK, Diego. Mas não quero passar as férias no portão de embarque do aeroporto. Tenho mais o que fazer. — repliquei.
— É mesmo, Rannison? E o que seria tão urgente? — perguntou meu outro eu provocativo.
— Qualquer coisa diferente de esperar, Diego. — respondi cáustico.
— Qual é a raiz dessa ansiedade? O que há de tão ruim no momento presente? — pressionou ele, determinado.
— O que há de tão ruim? — parei, pensei um pouco, absorvi aquele momento, as pessoas ao redor, os sons dos auto-falantes "senhores passageiros do vôo...", aquele peso nas costas. — Esta porcaria de mochila. É isso o que há de tão ruim. — respondi
— Então, porque não se livra dela, Rannison? — me provocou ardiloso.
— Se eu joga-la fora, vou perder coisas que me são úteis. Preciso dela. — respondi.
— É claro. Mas não disse para jogar fora, só para se livrar dela.
Bum! A conversa acabou. De repente, dentro de mim, tudo era silêncio. Entendi. Eu não precisava carregar aquele peso nas costas. Mas, sequer tinha pensado em colocar a mochila de lado, me livrar do fardo e só pegá-la quando fosse realmente necessário. As coisas dentro dela eram úteis, mas mantê-las sobre os meus ombros o tempo todo minava as minhas forças. Aquilo me lembrava alguma coisa...
Carregar o relacionamento que não funcionava mais, o trabalho que não trazia mais satisfação, o fardo das expectativas alheias. Manter aquele peso nas costas, o tempo todo e continuar atado a ele, como se fosse realmente preciso. Eu era Atlas e a minha mochila era o mundo. Aquele desassossego que eu sentia era o meu complexo de Atlas me dando uma surra, meu ego sendo purgado. Tirei o peso das costas e senti o alívio nos ombros. As coisas úteis continuavam ali, ao alcance das minhas mãos, mas não pesavam mais sobre mim.
"Não acredito que não fiz isso antes." pensei. Mas, a verdade é que fazia aquilo com as experiências da vida, especialmente as negativas. Continuava carregando o peso, achando o momento presente menos interessante porque a carga do que ficou para trás ia minando a minha resistência. Ao invés de levar apenas os aprendizados e deixar as dores de lado, carregava o pacote inteiro, o tempo todo. Ficava amarrado àquelas lembranças, àquelas histórias. Ao invés de pegá-las só quando fosse necessário, eu me amarrava a elas.
Estava tudo lá naquele pacote: as surras, os medos, os traumas, as decepções, os personagens criados para lidar melhor com cada situação, a ilusão de invencibilidade, o ego agonizante e, é claro, o bom e velho sorriso. A melhor armadura do mundo para seguir adiante, mesmo que seja só "da boca para fora". Só que, quanto mais intensa for a vida, quanto mais buscarmos dela, mais chances de experiências negativas. A gente usa o peso com o argumento de se proteger e "não dar o mesmo mole outra vez", mas, na verdade, parece que, inconscientemente, o fato de ele retardar nosso progresso, nos dá um álibi.
É como se a gente carregasse aquele monte de coisa para justificar ir mais devagar. Avançar mais lentamente, ter menos experiências. Com menos experiências, menor a possibilidade de resultados negativos. A vida vai demorando a passar, vai ficando enfadonha, incômoda. Igualzinho esperar para embarcar num avião. Mas não há nada errado com as circunstâncias da vida, é a percepção que ficou distorcida pelo peso.
Você também faz isso? Também carrega o "mundo nas costas"? Como seria a sua vida se o colocasse de lado só um pouquinho? Atlas, o titã, carregava o mundo porque não tinha opção, estava acorrentado a ele. Mas você não é um monstro mitológico e nem está acorrentado a nada, a não ser àquilo que acredita estar. O vôo ainda vai demorar a partir e você está só de passagem por aqui, então, qual é a pressa? Aproveite. O que está te roubando do momento presente? O que tem na sua mochila? Seja o que for, que tal se livrar dela?
Boa Segunda!
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