O Tempo
- rannison rodrigues
- 13 de jun. de 2021
- 3 min de leitura

De repente, num dia como outro qualquer, a gente acorda e realmente percebe que o tempo passou. É claro, nós estávamos lá, vimos e vivemos os acontecimentos. Ou será que não? Subitamente, a pessoa que te olha de volta no espelho até lembra você, mas tem alguma coisa diferente. Seriam as rugas? Ou será que são aqueles cabelos brancos crescendo na fronte clandestinamente? Não, há algo mais.
Parece que fomos devorados, sugados, digeridos. Nossa imagem não é mais a mesma que lembrávamos. As feridas que ficaram das experiências tornaram a nossa alma outra. Os olhos que antes brilhavam de um jeito, agora cintilam de maneira diferente. Mas, ainda assim, o tempo não se importa. Ele não tem nada a ver com isso, é o senhor das transformações. Transcendente a morte.
Como somos pequenos diante do tempo. Aliás, como somos tão pouco diante da vida, do mundo, da história. Somos sopros. Hoje eu olhei nos olhos do tempo e chamei ele para uma conversa. Mas ele não pôde ficar, afinal, nunca para, nunca se detém. E de passagem como estava, me sugeriu só uma coisa: "Faça o mesmo, mortal. Nunca se detenha, nunca dê conversa ao que é impermanente. Eu estou passando, para você e para tudo mais. E não volto. O que você vai fazer do seu próximo instante?"
Vivi até aqui com a impressão de que teria mais alguns anos, mais alguns dias, que poderia deixar para fazer amanhã. Mas, como o tempo me explicou hoje, embora isso seja uma meia-verdade, ele é tão relativo que, um dia pode valer por anos e muitos anos podem significar alguns segundos. O que importa no final é o quanto conseguimos evoluir.
Você já se perguntou o quanto evoluiu até hoje? Já parou para pensar no tempo que perdeu com coisas banais? Já pensou nos momentos que não vai conseguir viver pelas escolhas que fez? As primeiras palavras do seu filho, talvez, ou quem sabe os dias e noites longe de quem ama? Quanto vale isso? O que você quer tanto que vale essa escolha? O tempo é inexorável, não retrocede e nem se detém. Mas você tem esse privilégio, então pense, para onde você está indo?
Minhas rugas e meus cabelos brancos clandestinos, me lembraram de muita coisa. Do caminho que percorri até aqui, das histórias. Fui feliz, vivi muito. Sou feliz e ainda há muito que viver. Ainda sou jovem, eu sei. Mas, dentro de mim, há um velhinho que me provoca a pensar, o tempo todo, no que eu estou fazendo. Estou seguindo, certamente. E acho, estou evoluindo. E você? O que acha? Há algo que queira fazer diferente? Há algo que não vale o tempo dedicado?
Às vezes, fazer o balanço da vida, dos amores, dos medos e da própria história é difícil, porque, no final, é sempre você mesmo avaliando o que fez. Como ser imparcial? Como realmente olhar e ver? Talvez você tenha essa resposta que eu ainda não encontrei. Mas, continuo observando e absorvendo o que consigo, questionando se realmente sei o que acho que sei. Estranho? Talvez, mas mais estranho ainda seria nunca fazer isso.
Não é interessante notar que, atualmente, para chegar do ponto A ao ponto B, costumamos usar GPS e para viver as nossas vidas, achamos que estamos no controle, sabemos por onde seguir? Às vezes, a distância nem é tão grande. Eu, por exemplo, para andar em São Paulo, uso GPS pra tudo. Mas, quando se fala de viver, pergunte a qualquer um na rua, as pessoas estão cheias de opiniões sobre a própria vida, sem ter rumo claro. Gastam tempo e energia a toa, mas vão seguindo, sabe-se lá para onde.
Se como eu, você também se emociona quando o seu GPS te avisa que "Você chegou ao seu destino!", para logo depois pensar, que era só modo de dizer, então, vai entender como é importante recalibrar as rotas da vida. Olhar, de vez em quando, nos olhos do tempo e chama-lo para uma conversa. Olhar para si mesmo no espelho e perguntar "É isso mesmo? É esse o caminho?" Acho que o nosso DESTINO, talvez, seja uma soma de vários destinos. Quando a gente alcança um deles, logo vem outro para ser alcançado. O show não pode parar. Por que o tempo não para. O tempo é inexorável. E você? Qual é o seu próximo destino? O que você vai fazer do seu próximo instante?
Só consigo pensar em Caetano:
"Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ouve bem o que eu te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo"