Paciência
- rannison rodrigues
- 7 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

Semana passada me veio o texto sobre a história da Ale e seu avô, ficava evidente para mim a ilusão do tempo e a nossa distração diante da fugacidade da vida. Dois dias depois, a notícia da morte da Marília Mendonça pareceu uma daquelas coincidências (se é que isso existe) que reforçam a lição: a vida que os olhos veem e as mãos tocam, é um piscar de olhos. É preciso vivê-la.
“…A vida é trem bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir.” diria outra brilhante cantora de quem tanto gosto. E é aí que, de repente, bate aquela vontade enorme de ir fazendo o máximo de coisas antes de a viagem acabar, viver intensamente cada momento. Isso te acontece quando é confrontado com a morte? Acontece comigo. Mas, seria essa a resposta?
Cazuza dizia que “o tempo não para”, mas acho que, às vezes, ele acelera tanto que parece estar parado, como a roda de um carro em alta velocidade. Você já se sentiu assim quando estava fazendo coisas demais? Eu já. Por isso, acho que não tem a ver com a quantidade de coisas que fazemos. Então, como lidar com essa "contagem regressiva"?
Quando Lenine diz que “o mundo vai girando cada vez mais veloz. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência” pode parecer contraditório, mas não é. Paciência não é inércia. É antes uma forma inteligente de persistência. Aliás, ser paciente com o outro e consigo mesmo, exige muito trabalho.
Não entendi nada, Rannison. Morte, tempo, paciência, letra de música, roda de carro. Explique-se. Faça sentido, por favor. Vou tentar: O homem teme a morte por usar mal seu tempo. Confunde movimento com progresso e vai rápido demais para lugar nenhum. Não progride porque é impaciente e na sua ânsia por mais um passo, esquece que extensão sem profundidade é sobrevivência sem vida.
Então, percebi que o tempo que nos é dado só tem valor se o usamos para aquilo que realmente é. Para darmos uma espécie de retorno ao mundo. É como se algo nos tivesse sido confiado e precisasse ser repassado a todo o resto da humanidade. Mas, o que é isso? Acho que é justamente aí que entra a paciência. É como uma obra de arte ou uma música. A gente tem que trabalhar sem pressa, com amor e muita paciência, até descobrir e entregar. Talvez essa seja a única coisa que realmente faz a vida valer a pena.
Mas, quem sabe você já passou pela situação desagradável de ser hostilizado por fazer o que tinha de fazer. Talvez tenha pago seus impostos e alguém te chamou de trouxa ou então se recusou a trair alguém e foi traído pela mesma pessoa a quem foi fiel. Qualquer observador externo poderia te julgar como ingênuo, otário, burro. E aí também entra a paciência.
Só você mesmo é capaz de ser o que é. Ninguém mais pode, ninguém mais faz ideia de como é isso. E, portanto, ter paciência com a tolice alheia é uma profilaxia necessária. Deixe "que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá…", e vá no seu tempo, no seu caminho. Não se importe muito com o ruído de quem se esqueceu de cuidar da própria obra, cuide da sua. Tem uma alma gritando a plenos pulmões aí dentro de você neste momento.
A vida é trem bala, parceiro. O tempo na para. O mundo vai girando cada vez mais veloz. Mas calma, paciência, sua obra precisa de você. Não se apresse, não se detenha. Veja a vida com os seus olhos. Olhe o mundo de um jeito diferente, tudo passa tão rápido. Preste atenção, ouça aquela música que só você pode escutar e dance como se fosse um louco para os que não conseguem ouvi-la. Ignore os comentaristas de plantão, eles não são importantes.
Seja você importante para a vida. Suspeito que ela esteja cantando aí ao seu ouvido, que nem a Marília, em tom de alerta "Deixa mesmo de ser importante / Vai deixando a gente pra outra hora / E quando se der conta, já passou / Quando olhar pra trás, já fui embora". Você consegue ouvir? Então, não deixe para outra hora. Não existe outra hora. Viva agora e seja paciente. Boa segunda!
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