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Passinhos


Você já viu uma criança aprendendo a andar? Elas vão engatinhando para todo lado e, depois de um tempo, querem porque querem ficar de pé. Não há nada nesse planeta capaz de desencorajá-las. Se apoiam no que têm, do jeito que podem e vão se levantando, ainda vacilantes, com muito pouco equilíbrio. Mas não há hesitação, nem medo, elas não temem o insucesso. Até que conseguem, mesmo que só por alguns instantes.

Depois do breve triunfo, caem. E lá vem o rostinho assustado, lá vem o choro. Segundos depois, contudo, estão tentando de novo e de novo, e de novo. Até que, finalmente, ficam de pé e andam. Para praticamente todos nós foi assim. Hoje, porém, é muito fácil se esquecer disso. Afinal, aconteceu há tanto tempo, que parece ter sido em outra vida. Mas não foi.

Nossos pequenos nos lembram disso. Corajosamente, munidos apenas de suas fraldinhas e coragem, vão lá e realizam o que parece impossível. Fazem o que têm de fazer, até conseguir. Nada de desistir ou se abater. Para eles, não há vergonha em cair e não existe motivo para hesitação. Um bebê não pensa “o que vão dizer de mim se eu errar?” Ele não reprime seu impulso interno mais puro. Ele sabe que aquilo é verdade e não precisa de justificativa. Você consegue imaginar um bebê se questionando: “Será que eu mereço andar?”

Isso me veio à mente porque, ao ver meu filho, tão resolutamente, tentando dar seus primeiros passos, percebi que todos nós somos como bebês aprendendo algo da vida. Pode ser uma habilidade nova ou uma forma diferente de ver a existência, por exemplo. Mas, há uma diferença: quando crescemos, ficamos medrosos, hesitantes. Temos medo do julgamento alheio, da rejeição, do insucesso. Desistimos depois de algumas quedas e começamos a questionar se aquilo realmente é para nós. Vamos sufocando nosso impulso interno mais puro. Perdemos a fé em nós mesmos.

Imagine um bebê que desistiu de andar. Isso é concebível para você? Para mim não é. Mas, consigo imaginar alguém que desistiu do que ama e você? Consigo imaginar muitas e muitas histórias de pessoas que se convenceram de que aquilo que desejam com mais força, é uma bobagem. Que não merecem o que tanto amam. Mesmo sem tentar, mesmo sem pagar o preço para descobrir, hesitaram e se deixaram levar pelas opiniões alheias, pelos insucessos do passado, pelo orgulho, pela falsa sensação de auto-importância. Importantes demais para serem felizes, medrosos demais para viver de acordo com a sua própria natureza.

Felizmente, temos os bebês. E não dá para fingir que não é possível. Porque se um garotinho armado apenas da sua fralda e da sua vontade, é capaz de fazer o que precisa para ficar de pé e seguir, então nós também podemos. Não há vergonha na queda, não há demérito no erro, não há nenhum motivo razoável para não seguir essa voz que grita dentro de nós: “Vá! Levante! Coragem! Você pode!” Afinal, não se perde nada por tentar, mas não tentar pode custar uma vida inteira.

Ninguém pode ser feliz por você. Ninguém pode entender suas feridas, seus tombos, suas dores. Mas, como bebês, sempre há alguma coisa lá nos amparando, nos animando a tentar de novo, nos consolando depois da queda, nos guiando pelo caminho certo. Uns chamam de Deus, outros de universo. São muitos nomes, chame como quiser. Vou chamar de vida. E a vida, essa força generosa, está logo ali, do seu lado. Pacientemente, amorosamente, ela oferece o que você precisa para conseguir. Mas, ela não pode tomar a iniciativa, não pode fazer por você. Os passos são nossos, o mérito é nosso, a escolha é nossa.

Tomar o nosso destino nas próprias mãos é uma questão de decisão. De decidir continuar quando seria mais confortável parar, de escolher tentar quando tudo nos diz para desistir, de ouvir essa voz que vem de dentro quando o mundo a nossa volta faz tanto barulho, de aceitar que certas coisas não se entendem com a cabeça e dar o próximo passo. Ir e resgatar a fé em nós mesmos.

É nossa a decisão de levantar depois dos tombos, dos sustos, dos choros e tentar de novo e de novo, e de novo, até conseguir. Até estarmos realmente alinhados com aquilo que somos, não importando o preço. Cair pode machucar o corpo e até o ego. Mas, não tentar nos mata a alma. Tomar nosso destino nas próprias mãos é um ato de coragem tão nobre, tão verdadeiro e tão poderoso quanto um bebê e sua fraldinha realizando o impossível. Experimente. Boa segunda!

 
 
 

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