Quando O Caminho é Longo Demais!
- rannison rodrigues
- 1 de jun. de 2021
- 4 min de leitura
Em 2014 comecei a praticar corrida. Timidamente, primeiro com 3 Km e aumentando aos poucos. Corri a primeira prova de 10km e me apaixonei pela coisa. Fui tentando melhorar o meu tempo e, aos poucos, percebi que precisava de orientação para isso. Como muita gente, procurei uma assessoria esportiva. Na época, morava em Copacabana e durante uma corrida na orla, parei na tenda de uma das assessorias e perguntei como funcionava o serviço e quanto custava. Queria ter aulas de corrida, disse, com o objetivo de melhorar minha performance.
Por esses acasos da vida, o rapaz que me atendeu, o Rafa, disse assim: "Por que você não se inscreve para o triatlon, você tem biotipo de triatleta?!". Fiquei todo lisonjeado, é claro. Mas, confesso, não sabia direito o que aquilo significava. Só sabia que triatlon demandava uma bicicleta que eu não tinha. Argumentei isso e ele me acalmou: "a gente te empresta a bike para os treinos. se não gostar, pode mudar o plano pra corrida."
Ainda estava hesitante, mas quando ele disse que o plano de corrida era de 200 reais por mês e o de triatlon, 250, me convenceu. Achando que era promoção de supermercado de Leve 3 pague 1, comecei uma jornada que mudaria muito minha maneira de ver a vida. E semanas depois do início do treinamento, intimamente, já estava decidido a permanecer no triatlon.
Os primeiros dias foram bem desencorajadores. Nadar no mar gelado sem roupa de borracha e sem óculos de natação na primeira aula da modalidade, era tudo menos estimulante. Mas, confesso que aquela sensação de quase-morte para nadar 100 metros, mexeu com meus brios. Saí da água um tanto envergonhado. Confesso que fingi cãibras para não continuar. Mas, dois dias depois, lá estava eu. Com uma roupa de borracha e um óculos de natação.
A parte terrestre, no entanto, sempre me agradou muito. Correr era ótimo e pedalar me fazia muito bem. Então, após alguns meses de treinamento, fiz a minha primeira prova na modalidade. Me apaixonei novamente. Fui vendo as histórias dos triatletas mais experientes sobre provas e, uma delas, dentre todas as outras, sempre se destacava, o Ironman. Fosse qual fosse o triatleta, a prova sempre era mencionada com orgulho, um certo temor, às vezes, e com respeito.
Fui pesquisar e entendi porque. Um Ironman, consiste em uma prova de triatlon de 140.6 milhas ou 226 quilômetros. O atleta deve cobrir a distância dentro de um limite de tempo de 17 horas. O percurso é dividido em 3.8km de natação, 180 km de ciclismo e 42.4 km de corrida (uma maratona). E cada um dos percursos tem seu próprio tempo limite. Caso o atleta falhe em cumpri-los é proibido de continuar a prova. É um desafio e tanto.
Queria me testar também. Queria ser "um Ironman"! Mas toda vez que pensava nos 226 quilômetros, a ideia parecia absurda. Continuei treinando e fui aumentando as distâncias das provas. Em breve, estaria realizando um meio-Ironman. A prova consiste em metade da distância de um Ironman Full, são portanto, 113 Km: 1,9 de natação + 90 de bike + 21,1 de corrida (uma meia-maratona).
Em Maio de 2017 fiz o meu tão aguardado Ironman, tinha cancelado a prova em 2016 por motivos tolos e foi só no ano seguinte que realmente larguei de jurerê internacional, fiz os 226Km em 11 horas e 30 minutos, e recebi o "Rannison, You are an Ironman!"na chegada. Esse o caminho até aquela chegada me mostrou uma coisa muito simples: tudo o que importa é o seu próximo passo. E é essa a ideia que quero compartilhar com você aqui.
Há alguns anos, o CEO de uma empresa onde eu trabalhava me perguntou: "E aí, meu! Como é que faz terminar um Ironman?". Achei a pergunta interessante, e a única resposta que consegui dar foi: "É fácil, basta ir um metro de cada vez." Ele riu. Disse que eu estava sendo humilde. Eu acho que não. É realmente isso. Essa é a fórmula secreta. Não apenas para um Ironman. Mas para a vida como um todo, para aquelas coisas que sonhamos e que parecem grandes demais.
Quando o caminho é longo demais, tudo que nos resta é da um passo de cada vez, o melhor possível e nunca, jamais parar. Nunca, jamais duvidar do que estamos fazendo e, em hipótese alguma retroceder. Não precisa ser rápido, não precisa ser bonito, só precisa acontecer. Um passo de cada vez, até chegar. Falo muito disso por aqui. Mas, vejo que isso pode ser útil para alguém.
Vivemos no mundo do exponencial, do hyper growth, do blitzscaling. E de tanto ouvir essa ladainha dos sucessos milagrosos, nos tornamos escravos de uma ideia absurda de sucesso. Para realizar certas coisas precisamos ter paciência, continuidade, consistência. Se o seu sonho parece por demais distante, se ele parece absurdo ou fora de alcance, questione-se: "Se eu desse um passo de cada vez, sem pressa e sem pausa, eu conseguiria?". Acho que sim.
Quando o caminho for longo demais, esqueça o caminho, concentre-se no caminhar. Coloque sua energia naquilo que você pode controlar e faça o seu melhor sem esperar recompensas imediatas. Não desvie seu caminho só porque parece mais conveniente. E mesmo quando os atalhos parecem atraentes demais, evite-os, você pode se perder neles tempo o suficiente para esquecer de para onde estava indo.
Quando cruzei a linha de chegada do Ironman, lembro de estar com frio, com fome e cansado. Não tinha muito mais energia, confesso. Mas, terminar aquela prova, vencer aquele desafio, é eterno. Está em mim, no meu DNA, na minha mente e no meu corpo. Quando nos propomos a fazer grandes coisas é normal sentir medo, é normal duvidar e, quase com certeza, pagaremos um preço alto por isso. Mas, depois de cruzar esse limiar de realização, somos diferentes.
Não sei de onde você é ou quais são seus sonhos. Mas, seja qual for, lute por ele. Não duvide de si. Você pode. Basta continuar, um metro por vez, um passo por vez, um pouco e mais um pouco, até chegar. São as pequenas coisas que constroem as grandes. São os pequenos gestos que tornam qualquer coisa possível. Qual é o seu Ironman? Qual o seu caminho longo? Qual será o seu próximo passo?

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