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Você Vilão

Atualizado: 1 de ago. de 2022


“O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo.” Essa frase, atribuída a Nietzsche, sintetiza de forma muito elegante o dilema humano. Nós realmente somos nossos piores algozes. Mas por muito tempo pensei na razão disso. Por que nos antagozinamos tanto? Já te aconteceu de se pegar criticando, diminuindo, duvidando, ridicularizando a si mesmo?

Como isso me aconteceu muitas vezes, posso afirmar que (no meu caso) não me via como um algoz de mim mesmo, mas sim como um amigo diligente, sendo duro para que eu crescesse e fosse melhor, sempre. Era uma espécie de “tough love” que me faria evoluir. Mas o problema é que, em muitos casos, a coisa toda estava apenas na minha própria mente. Eu era o meu pior inimigo, isso sim.

Havia dentro de mim essa coisa; plantada sei lá quando e sei lá por quem; de ser bonzinho. De fazer as coisas darem certo, de evitar que as pessoas se agastassem e, de alguma maneira, tomar as rédeas da situação e até mesmo mudar meu comportamento para que a coisa funcionasse. Indo além, por vezes, eu quis, literalmente, salvar os outros dos problemas que tinham.

Claro, não funcionou. Se alguém está se afogando e um navio para do seu lado, joga todas as cordas e boias, e, ainda assim, o náufrago não se mexe, ele não quer se salvar, quer aparecer. E veja você, eu realmente gastei boa parte da minha vida com gente medíocre, que não sabia o que queria e que se ressentia do empenho dos outros. Mas tentei ajudar, achando que estava sendo bonzinho, que aquilo era o certo. Errado. Eu estava sendo burro. Esse era o “Eu Vilão”.

Não sei se você já passou por algo parecido, mas esse inimigo interno de que falava Nietzsche, se revela o tempo todo. Foram pouquíssimas as ocasiões na minha vida onde ele não esteve presente segurando uma espécie rédea. Eu estava encilhado e ele vinha me colocar para funcionar de um jeito “todo certinho”. Meu Deus, que coisa horrível. Mas perceber isso foi maravilhoso.

Sabe quando alguém te oferece um chocolate e você simplesmente não tem razões para dizer “Não, obrigado?”. Então, eu dizia. Mas, POR QUE? Por que fazia aquilo? O chocolate estava lá, a pessoa estava mesmo oferecendo e eu queria. Por que não aceitava, então? Queria ser educado? Mas que besteira. Educado com quem? Parei com isso. Inclusive, se for me oferecer chocolate, pense bem. Eu vou aceitar.

O mais grave é que essas pequenas vilanias pessoais vão nos adormecendo para o que realmente somos. “Seja bonzinho” diz o vilão dentro de nós, tentando nos fazer abdicar do que nos é mais caro: nossa essência. E dá para ser uma pessoa melhor fingindo ser uma pessoa boazinha? Eu acho que não. E, para mim, as coisas só começaram a melhorar quando parei de tentar “não incomodar”.

Antes disso, agora vejo, viver era uma gastura. Uma cortesia de meia tigela, porque o meu coração não estava no ato, apenas a minha mente condicionada a ser “polida, boazinha, correta” e todo esse blá-blá-blá que a gente ouve para todo canto. Só depois de apanhar tanto de mim mesmo, decidi fazer as pazes com o meu anjo mal. Coloquei minhas asas negras e decidi voar do meu jeito.

Posso também afirmar, com muita certeza, que, não importa o quão bozinho você seja, tente ser ou ache que é. Você vai “apanhar” da vida do mesmo jeito, e muito. E já que é para ser assim, então, que pelo menos seja por ser quem você realmente é. Por isso, fica aqui o meu conselho: coloque as suas asinhas de fora. Se você nunca for o vilão, não está assistindo o filme direito.

A perfeição não é coisa humana. É antes uma ideia a qual aspiramos, mas que precisa de verdade para existir. Ser de mentira não leva a lugar nenhum. Talvez te renda um câncer ou uma conta vistosa no terapeuta, mas não muito mais que isso. Se o mundo não entende, não aceita ou não se agrada de quem você é, o problema é do mundo. Não se molde, não. Só sendo quem você é poderá alcançar tranquilidade, felicidade, paz de espírito.

Acredito que nossa única missão como almas encarnadas nesse mundo é aprender a amar. Porque amar, isso sim, é humano. Mas você não será capaz de amar ninguém sendo seu próprio inimigo. Não será capaz de acessar o amor se não for sincero consigo. E amar ao próximo como a si mesmo, torna-se, portanto, missão inglória. Acredito que só ama realmente quem sabe que também é o vilão, que é humano e, por isso, não se cobra perfeição.

Esse, portanto, é um apelo de uma pessoa como você: “Por favor, seja você!” Não fique tentando lacrar não, deixe deslacrado mesmo. Afinal, lacres só servem para prender as coisas e logo serem arrebentados. Não se preocupe em ser bonzinho não, se preocupe em ser real. Não gaste mais tempo da sua vida tentando ajudar gente que não quer se ajudar. Ora, que morram queimados. Vá ser você e cuidar da sua vida.

Coloque suas asas negras, abrace seu lado “não-bonzinho”, vá ser feliz, vá ser imperfeito. A gente está envelhecendo a cada segundo. Vá viver, meu querido leitor, você precisa disso e não vai ter outra oportunidade. A vida é agora, é hoje, é já. Pegue suas asas e vá voar do seu jeito. Boa segunda!

 
 
 

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Since 2021. por Rannison

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